A mineração carrega consigo um impacto devastador tanto no meio ambiente quanto na vida das pessoas. 

A extração de recursos naturais, essencial para diversas indústrias, resulta frequentemente na degradação de ecossistemas inteiros, contaminação de fontes de água e destruição de habitats. 

Desastres ambientais, como os rompimentos de barragens, exteriorizam a devastação causada por práticas irresponsáveis da mineração.

As consequências para as comunidades locais são igualmente drásticas, incluindo o deslocamento de famílias, a perda de moradias, de meios de subsistência e, tragicamente, de vidas humanas, animais e vegetais.

A 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente não apenas evidenciou os prejuízos ambientais e sociais, mas também questionou o lucro e os interesses empresariais que frequentemente se sobrepõem ao bem-estar das pessoas e ao equilíbrio ecológico.

O evento foi realizado no Reserva Cultura, em São Paulo, cidade escolhida por ser o centro financeiro do país que abriga as maiores empresas. Muitas decisões que afetam outras regiões, especialmente Minas Gerais, são tomadas em São Paulo, muitas vezes sem um entendimento completo da realidade vivida pelas pessoas locais. Organizar o evento na cidade visa justamente aproximar o público da realidade das tragédias, sensibilizando-os e promovendo um maior engajamento no assunto.

Tragédias como os rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho são exemplos claros de como a busca incessante pelo lucro pode resultar em catástrofes humanitárias e ambientais.

Essas tragédias expõem a necessidade urgente de atitudes sustentáveis, que considerem os direitos humanos e a proteção do meio ambiente prioridades nas decisões de negócios.

Neste contexto, a arte surge como uma poderosa ferramenta de reflexão e transformação. Por meio do cinema, da música e das artes visuais, é possível ressignificar o luto e a dor provocados por tais tragédias, oferecendo um espaço para o diálogo e a conscientização.

 A 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente, promovida pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti, usou a arte para ser um veículo de mudança, trazendo debates essenciais sobre os impactos da mineração.

O cinema, em seus múltiplos formatos, serve como um espelho da sociedade, refletindo suas dores, lutas e esperanças.

A promoção de um diálogo aberto e informativo é outro aspecto vital da arte como ferramenta de transformação.

A Mostra de Cinema e os debates subsequentes criaram espaços seguros onde ideias puderam ser trocadas, assim como  perspectivas compartilhadas.

Essas discussões não apenas educam o público sobre os impactos da mineração, mas também inspiram soluções colaborativas e ações concretas.

Ao envolver diversos especialistas, ativistas e artivistas em um diálogo contínuo, a Mostra contribui para a formação de uma consciência coletiva sobre a necessidade de um desenvolvimento mais sustentável e responsável.
No fim, a arte funciona como uma ferramenta para mudança social, fomentando um diálogo que leva a ações significativas e duradouras em prol da justiça social e ambiental.

1º dia da Mostra – Filme: Ode ao Choro, de Cecília Engels | Roda de conversa: A Arte Para Ressignificar o Luto.

No dia 22 de julho, a 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente teve início de forma emotiva. O evento, realizado pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti, começou às 19h com a recepção do público, seguida pela cerimônia de abertura às 20h. 

A noite foi marcada pela exibição do documentário “Ode ao Choro”, dirigido por Cecilia Engels, precedido pelo novo vídeo institucional do ICTL e pelos melhores momentos da Mostra 2023.

O filme

O documentário “Ode ao Choro” aborda a dor e a superação da própria diretora no seu processo doloroso de luto após sua melhor amiga, Camila Taliberti, ter a vida interrompida em Brumadinho. A obra traz à tona sentimentos profundos e a capacidade humana de ressignificar o luto. A narrativa do documentário é uma homenagem aos que sofrem e uma inspiração para aqueles que buscam maneiras de lidar com suas perdas.

Roda de conversa: A arte para ressignificar o luto

Após a exibição do documentário, realizou-se uma conversa com a presença de Cecília Engels, diretora do filme, Natalia Timerman, médica psiquiátrica e escritora, e Plínio Cutait, profissional de cuidados integrativos. A mediação foi de Helena Taliberti, presidente do ICLT, e a temática central da discussão foi “A arte para ressignificar o luto”.

Durante o debate, foram abordados temas fundamentais sobre os impactos que as tragédias da mineração no Brasil têm na saúde mental das pessoas envolvidas – com um foco especial no desastre de Brumadinho. Helena Taliberti, mãe da Camila e do Luiz, vítimas fatais do rompimento da barragem, e idealizadora do ICLT, também contribuiu como mediadora, compartilhando sua própria experiência de luto e resiliência.

A diretora do filme, Cecilia Engels, destacou que cada parte do processo de criação do documentário funcionou como um ritual, um meio de elaboração das emoções mais intensas. “O filme é parte de um ritual. No processo de como eu escolhi o que eu ia atravessar, criei um ritual para cada uma das partes onde doía. Para mim, era como uma sessão terapêutica”, afirmou Cecília, enfatizando o papel da arte no luto pessoal.

Natália Timerman compartilhou sua vivência pessoal, revelando como a arte pode ser uma ferramenta de cura. Ela relatou um momento íntimo ao se despedir de um ente querido, destacando a importância dos rituais no processo de luto: “Quando ele estava morrendo, a gente pôde falar para ele: ‘Pai, pode ir, está tudo bem, você já deu tudo para a gente’. Mas, mesmo vivendo cada etapa de se despedir, a ausência ainda pesa, e os rituais ajudam a dar sentido a essa dor.”

Plínio Cutait abordou a importância da repetição e do contato constante com a arte para processar o luto. Ele ressaltou que a experiência de rever um filme ou escutar uma música várias vezes pode abrir novas camadas de entendimento e conexão emocional: “Hoje foi uma experiência mais aberta, mais profunda para mim. Reconhecer que esse repetir de hoje, de ver o seu filme de novo, foi uma experiência mais aberta, mais profunda.”

Outro participante da plateia, Claudemir fala do sentimento de anulação que as pessoas em luto sofrem. Ele terminou perguntando a Cecília se ela sentiu esse sentimento de anulação e se sim, como isso se transformou em arte.

Impactos na saúde mental

As tragédias da mineração, como o rompimento da barragem de Brumadinho, deixam marcas profundas nas pessoas afetadas. Os participantes abordaram como esses eventos traumáticos afetam a saúde mental das vítimas. 

Arthur, participante da plateia, destacou as comunidades que vivem sob constante ameaça de perda de seus territórios, seja por madeireiros, hidrelétricas, empreendimentos logísticos como rodovias, ou barragens e outras atividades exploratórias. Esses poderes frequentemente geram novos lutos para essas populações.

Ele comparou esse luto com o vivido por familiares de vítimas da violência estatal contra jovens negros. Arthur comentou sobre os impactos devastadores da mineração, que altera radicalmente o modo de vida nos territórios explorados.

O luto, a dor e a angústia são sentimentos comuns, mas muitas vezes subestimados no contexto de desastres ambientais. Natalia Timerman destacou a importância do suporte psicológico e do cuidado contínuo para aqueles que enfrentam tais adversidades.

“A gente tem que transformar o mundo. E essa trajetória pessoal vira uma trajetória coletiva e isso é um pouco o que esse evento, o Instituto criado faz. A ressignificação não pode ser apenas interna, ela precisa se projetar para fora.”, ponderou Arthur.



O Caso de Brumadinho: uma ferida aberta

O desastre de Brumadinho foi um dos pontos centrais da discussão. Helena Taliberti e os demais participantes refletiram sobre a magnitude da tragédia, não apenas em termos de vidas perdidas, mas também em relação ao impacto ambiental e social da mineração.

A dor das famílias, a devastação das comunidades e a luta por justiça foram temas que emergiram com força durante a conversa.

A importância da participação do público

A interação com o público foi um destaque significativo do primeiro dia da mostra. Após a exibição do filme e durante o debate, os espectadores participaram ativamente.

CONFIRA OS MELHORES MOMENTOS DO PRIMEIRO DIA: https://www.youtube.com/watch?v=bzcY2zjnCAU

2º dia da Mostra – Filmes: Rejeito, de Pedro de Filippis, e Solastalgia, de Lucas Bambozzi | Roda de Conversa: Rota de Fuga

Na terça-feira, 23 de julho de 2024, o Instituto Camila e Luiz Taliberti promoveu o segundo dia da 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente. A noite foi marcada por uma programação que trouxe questões essenciais sobre os impactos da mineração.

 Houve a exibição do curta “Solastalgia”, de Lucas Bambozzi, e do documentário “Rejeito”, de Pedro de Filippis.

O ponto alto do evento foi a roda de conversa “Rota de Fuga”, que contou com a participação de Maria Teresa Corujo, ativista ambiental, e Randal Fonseca, gestor de desastres, sob a mediação de Lucas Bambozzi, artivista visual. 

A discussão aprofundou as consequências ambientais e sociais da mineração, gerando um intercâmbio de ideias e engajando o público presente.

Lucas Bambozzi abriu a discussão com uma pergunta contundente: “O que pode a arte dentro dessas situações de tragédia? Não é uma pergunta retórica, é uma pergunta real, honesta.” Essa reflexão inicial estabeleceu o tom para um debate que mergulhou nas implicações emocionais e sociais da mineração no Brasil.

Maria Teresa Corujo falou da complexidade de comunicar os horrores da mineração para um público que muitas vezes desconhece sua realidade. Ela compartilhou: “Eu quero falar para quem não conhece nada sobre mineração. Eu não quero falar para quem já é impactado, para quem é ambientalista, para quem me conhece na academia. Eu quero criar algo para que chegue além disso. Para que as pessoas saibam e reflitam.”

A ativista também relatou a angústia e a frustração que sentiu no dia do rompimento da barragem em Brumadinho: “Eu soube do rompimento e o tempo inteiro eu não parava de pensar: ‘E se tivessem escutado as pessoas pedindo para não licenciar a continuidade e ido lá olhar? Será que não teriam descoberto a tempo?’”

Maria Teresa destacou, ainda, o cinismo com que a sociedade, em muitos casos, lida com as verdades sobre a mineração: “Sabe quando você fica a vida toda sabendo que pode e você olha ao redor e todos dizem que está tudo ótimo, perfeito e que tem que continuar. E você sente e observa que nada faz sentido. Que é absurdo e continua tudo funcionando como se não houvesse uma realidade.”

Ao final, Maria Teresa expressou uma dura crítica ao sistema que perpetua essas tragédias: “Nós temos uma máquina, uma máfia, a serviço da mineração que envolve todos os órgãos de controle… A qualquer momento nós podemos ter de novo milhares de pessoas soterradas.”

Os Rejeitos da mineração e seus impactos

Eles são subprodutos resultantes do processo de extração e beneficiamento de minerais. Normalmente armazenados em barragens, esses resíduos podem causar danos irreparáveis ao meio ambiente e à sociedade.

O documentário “Rejeito” expôs de forma contundente a realidade das comunidades afetadas por essas práticas negligentes, destacando as tragédias ambientais e humanitárias que frequentemente se seguem aos rompimentos dessas estruturas.

Consequências ambientais e sociais da mineração

As tragédias provocadas pelos rejeitos da mineração são devastadoras. Ambientalmente, essas catástrofes resultam na contaminação de solos e cursos d’água, destruindo ecossistemas e biodiversidade. 

Socialmente, as comunidades locais sofrem com a perda de suas casas, fontes de água potável e meios de subsistência.

Esse foi o caso da família de Tatiane Menezes, uma moradora do assentamento em Pompéu. Ela relatou que, embora a comunidade esperasse um impacto significativo, a dimensão da tragédia foi além do imaginado. 

Os rejeitos do rompimento alcançaram mais de 200 quilômetros, afetando drasticamente a vida local. Tatiane testemunhou a mudança da cor do rio 45 dias após o desastre, momento em que as autoridades iniciaram o fechamento do rio e a instalação de placas de interdição, deixando evidente a gravidade da situação. 

O Rio Paraopeba, única fonte de água do assentamento, tornou-se impróprio para uso, e a seca agravou ainda mais as dificuldades.

Na região, cerca de 40% da população, que dependia do turismo ou da pesca, acabou vendendo suas terras e deixando o local. Aqueles que permaneceram, sem alternativas, continuam a consumir peixes contaminados, o que tem causado problemas de saúde. 

As margens do rio, antes usadas para cultivo, foram interditadas devido à presença de contaminantes no solo, que não apenas impedem o crescimento da vegetação, mas também representam riscos à saúde humana. 

As cheias históricas de janeiro de 2020 e 2022 agravaram a situação, resultando na interdição de cerca de 4 mil hectares de terra.

A mesa de debate “Rota de Fuga” discutiu esses impactos em detalhes, com Maria Teresa Corujo abordando o ativismo ambiental como uma ferramenta essencial para a conscientização e mitigação desses danos. 

Randal Fonseca, por sua vez, enfatizou a importância de uma gestão de desastres eficiente e a necessidade de políticas públicas que protejam as populações vulneráveis.

A Importância do ativismo ambiental

O ativismo ambiental desempenha um papel fundamental na defesa dos direitos humanos e na proteção do meio ambiente. Ativistas como Maria Teresa Corujo dedicam suas vidas a lutar contra as injustiças ambientais, promovendo a conscientização e mobilizando a sociedade para ações concretas.

Esses esforços são essenciais para pressionar empresas e governos a adotar práticas mais sustentáveis e responsáveis, prevenindo futuras tragédias e garantindo um ambiente saudável para as gerações futuras.

CONFIRA OS MELHORES MOMENTOS DO SEGUNDO DIA: https://www.youtube.com/watch?v=_4nSfYorVWw

3º dia da Mostra – Filme: Sociedade de Ferro, de Eduardo Rajabally | Roda de Conversa: o Lucro a Qualquer Preço

No dia 24 de julho, quarta-feira, o Instituto Camila e Luiz Taliberti promoveu o terceiro dia da 2ª Mostra Cinema, Meio Ambiente e Mineração. O evento contou com a exibição do documentário “Sociedade de Ferro”, dirigido por Eduardo Rajabally, seguido de uma mesa de debate intitulada “Lucro a Qualquer Preço”.

Sociedade de Ferro e a poesia de Drummond

O documentário “Sociedade de Ferro” se destaca por utilizar a poesia de Carlos Drummond de Andrade como fio condutor para explorar a complexa relação entre as gigantes mineradoras e o poder público em Minas Gerais. 

Por meio de uma narrativa profunda e visualmente impactante, o filme oferece um panorama detalhado dos eventos que culminaram em desastres ambientais, revelando os alicerces do capitalismo corporativo que moldam essa indústria.

Mesa de debate: Lucro a Qualquer Preço

Após a exibição do filme, a mesa de debate “Lucro a qualquer preço” proporcionou um momento de discussão do assunto. Mediado pela artista visual Isadora Canela, o debate contou com a participação do diretor do filme, Eduardo Rajabally, e da ativista ambiental Amanda Costa. 

Os palestrantes abordaram temas-chave para a compreensão das relações de poder e os impactos socioambientais da mineração, em especial, no estado de Minas Gerais.

Isadora Canela, mediadora do debate, abriu a discussão destacando o quão abrangente o filme é. “Gostei muito do quão completo ele foi em trazer o entendimento de que não podemos discutir mineração sem considerar o contexto do patriarcado e da justiça climática.” afirmou. Ela falou da importância de refletirmos sobre os valores que sustentam nosso comportamento social e os impactos dessas estruturas na nossa vida cotidiana.

Amanda compartilhou sua visão pessoal e crítica sobre as estruturas sociais que moldam a realidade das mulheres e das pessoas de comunidades periféricas. “Sou uma sonhadora que decidiu questionar todas as estruturas sociais que queriam predeterminar um lugar que eu deveria ocupar”.

Ela destacou a necessidade de criar novas narrativas e modelos sociais que incluam uma diversidade de vozes e representações, particularmente nas esferas de poder e tomada de decisão.

A ativista ambiental Amanda também falou da necessidade urgente de questionar e transformar essas estruturas sociais para incluir mais diversidade. “A partir do momento que cheguei a certos lugares, comecei a me questionar sobre a falta de pessoas que se parecem comigo – cadê as pessoas pretas, cadê as pessoas periféricas?”, disse. Ela enfatizou a importância de ter uma representação justa e significativa em espaços de decisão e poder, para criar novas narrativas que reflitam a realidade e as necessidades de todas as pessoas.

O diretor do filme, Eduardo Rajabally, trouxe uma perspectiva profunda sobre a tragédia de Brumadinho e o papel da narrativa em abordar tais questões. “Sobrou para nós a missão de entender qual a história que a gente ia contar que ainda não tivesse sido contada”, refletiu.

“Somos todos capitalistas. A gente não está preparado para abandonar esse estilo de vida”, afirmou ele. Eduardo argumentou que, apesar das boas intenções individuais, a mudança real deve ocorrer em um nível mais amplo, refletindo sobre como o capitalismo molda nossos hábitos e nossas decisões diárias.

Relação entre gigantes mineradoras e poder público

Os participantes destacaram a estreita relação entre as grandes empresas mineradoras e o poder público. Essa conexão frequentemente resulta em uma rede de interesses mútuos que prioriza o lucro acima de tudo, muitas vezes em detrimento da segurança e do bem-estar das comunidades locais e do meio ambiente.

A influência das mineradoras sobre políticas públicas e decisões governamentais foi um ponto central da discussão, ressaltando a necessidade de maior transparência e responsabilidade.

Capitalismo corporativo e lucro a qualquer custo

O capitalismo corporativo, especialmente no contexto da mineração, foi amplamente debatido, com os participantes explicando como esse modelo econômico favorece a concentração de poder e riqueza nas mãos de poucas corporações, em sua maioria estrangeiras, que frequentemente ignoram os custos sociais e ambientais de suas operações.

O documentário “Sociedade de Ferro” exemplifica como esses fatores contribuem para a perpetuação de práticas insustentáveis, inserindo-se na lógica do “Lucro a qualquer preço”. 

Essa mentalidade, presente nas empresas mineradoras, resulta em decisões que negligenciam a segurança, a saúde e o meio ambiente, como evidenciado em trágicos desastres ambientais em Minas Gerais. As discussões ressaltaram a necessidade urgente de mudanças estruturais e regulatórias para evitar futuras tragédias.

Relações de poder na mineração

As relações de poder envolvidas na mineração também foram abordadas, destacando como a concentração de poder econômico nas mãos das mineradoras afeta diretamente as comunidades locais. 

A falta de participação das pessoas da localidade nas decisões que impactam suas vidas foi um ponto crítico levantado, evidenciando a importância de fortalecer mecanismos de envolvimento social e controle público.

CONFIRA OS MELHORES MOMENTOS DO TERCEIRO DIA: https://www.youtube.com/watch?v=_oWqP2K951U

4º dia da Mostra – Filme: Vidas Barradas, 5 anos depois, de Cid Faria, e Luta por Reparação, de Isis Medeiros |  Roda de Conversa: Depois das Tragédias

O quarto dia da 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente do Instituto Camila e Luiz Taliberti destacou-se pela exibição do documentário “Vidas Barradas, 5 anos depois” e pela roda de conversa intitulada “Depois das Tragédias”, que contou com a participação de Julia Neiva, advogada e diretora da Conectas Direitos Humanos, Marina Oliveira, membro do MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração, e Maurício Angelo, jornalista e fundador do Observatório da Mineração.

Marina Oliveira iniciou a discussão refletindo sobre sua trajetória pessoal: “Eu não nasci defensora do meio ambiente, da natureza, eu não nasci defensora dos direitos humanos. Então eu tive a oportunidade de atravessar essa conversão ambiental, que na verdade foi muito mais que uma conversão ambiental. Foi descobrir também o meio ambiente e a natureza como fontes de disputa de gente poderosa, de setores econômicos poderosos”. 

Maurício Angelo destacou a tragédia de Brumadinho e a contradição entre o discurso da mineração e a realidade vivida pelas comunidades afetadas. “A Vale tinha o lema de Mariana nunca mais. Ou seja, nunca mais acontecer nada parecido com Mariana. E, depois de Brumadinho, se descobriu que tem dezenas de barragens, em Minas Gerais especialmente, que representam risco a milhares de pessoas.”

Ele também apontou o fato da indústria da mineração se orgulhar de estar presente em tudo, desde o aço até a água que bebemos. “Isso simboliza como a mineração é um pouco inescapável”, afirmou Maurício, ressaltando a complexidade das implicações dessa atividade.

Julia Neiva, ao final, trouxe uma reflexão sobre o papel do cinema e do documentário como formas de resistência e memória. “É uma forma da gente honrar a memória, a vida, da gente nunca mais esquecer, da gente poder pensar em reparação, mas eu acho que também significa um pouco de resistência. A gente não aceita”. 

Essa perspectiva reforça a importância de dar voz às histórias e experiências das vítimas, criando uma contranarrativa que desafia as versões oficiais e promove a conscientização sobre as consequências das tragédias.

Vidas barradas: uma narrativa de dor e luta

O filme “Vidas Barradas, 5 anos depois” revelou as histórias de pessoas cujas vidas foram interrompidas pela tragédia de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019. 

Naquela fatídica tarde, a barragem da Mina Córrego do Feijão, operada pela Vale S.A., rompeu-se, liberando 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos.

Essa avalanche de lama destruiu tudo em seu caminho: pessoas, animais, florestas, casas e sonhos. Casos como este, frequentemente decorrentes da ganância e negligência, não podem ser considerados meros acidentes, mas sim crimes socioambientais.

Em Brumadinho, 272 vidas foram interrompidas, incluindo bebês e mulheres grávidas. As cicatrizes deixadas pelo desastre são profundas e, até abril de 2024, três vítimas ainda eram procuradas. 

Além das vidas humanas, o impacto ambiental e socioeconômico foi devastador, afetando a fauna, a flora e a economia de mais de 20 municípios. O rio Paraopeba, vital para a região, foi contaminado, afetando também o rio São Francisco.

Depois das tragédias: reflexões e caminhos para a justiça

O debate “Depois das tragédias” reuniu vozes importantes na luta pela justiça socioambiental. Julia Neiva, de Conectas Direitos Humanos, Marina Oliveira, ativista ambiental, e Maurício Angelo, fundador do Observatório da Mineração, compartilharam suas perspectivas sobre a necessidade de reparação e justiça para as comunidades afetadas.

Julia Neiva ressaltou a importância de uma abordagem que vá além da reparação financeira, incluindo a restauração ambiental e a garantia de direitos para as comunidades atingidas. 

Marina Oliveira destacou a resiliência dessas comunidades e a necessidade de políticas públicas que previnam novas tragédias. Maurício Angelo, por sua vez, apontou para a responsabilidade das empresas de mineração e a urgência de um rigoroso e transparente licenciamento ambiental.

A Urgência de mudanças estruturais

O caso de Brumadinho e de Mariana são exemplos dolorosos das consequências da negligência e ganância no setor de mineração. A flexibilização do licenciamento ambiental só aumenta o risco de novas tragédias. 

É indispensável que os governos adotem uma postura firme contra esses crimes socioambientais. A justiça e a reparação para as comunidades afetadas são essenciais, mas é igualmente fundamental prevenir que tais desastres se repitam.

O Instituto Camila e Luiz Taliberti reafirma seu compromisso na defesa dos direitos humanos, promovendo debates e ações que busquem um futuro mais justo e sustentável.

O 4º dia da Mostra encerra-se com um renovado senso de propósito, inspirando todos a continuarem na luta por um mundo mais justo.

CONFIRA OS MELHORES MOMENTOS DO QUARTO DIA: https://www.youtube.com/watch?v=Rfv9uEcSIAY

Conclusão

A mineração tem sido uma das atividades mais danosas para o meio ambiente, gerando consequências socioambientais catastróficas que afetam tanto a biodiversidade quanto as comunidades humanas. 

No contexto da 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente, promovida pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti, em julho de 2024, é essencial refletir sobre os impactos desta prática devastadora, que contraria os princípios da sustentabilidade e dos direitos humanos.

Ou seja, os impactos da mineração não se restringem ao meio ambiente. Eles atingem diretamente as pessoas e seus direitos. 

Os filmes selecionados para a Mostra abordaram de maneira profunda e sensível as consequências da mineração, proporcionando uma compreensão ampliada do problema e das suas implicações para o futuro do planeta.

As tragédias causadas pela mineração têm deixado cicatrizes profundas na saúde mental das pessoas envolvidas. 

Eventos como os rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho exemplificam os danos irreversíveis à vida humana e ao ecossistema, gerando um luto coletivo que se estende muito além dos limites geográficos das localidades atingidas.

Em meio ao caos e à dor, muitos encontram na arte uma forma de expressão e resiliência. A arte, seja por meio do cinema, da pintura, ou da música, oferece um espaço para a reflexão e a denúncia, permitindo que as vítimas expressem suas angústias e encontrem um caminho para a cura. 

A arte pode servir como uma plataforma para dar voz aos que foram silenciados pela destruição e para promover a conscientização sobre os impactos das tragédias ambientais.

Além da arte, muitos sobreviventes e familiares das vítimas das tragédias minerárias têm encontrado no trabalho social uma forma de canalizar seu luto e contribuir para a prevenção de novas tragédias. 

Cinco anos após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a 2ª Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente do Instituto Camila e Luiz Taliberti manifesta a urgência de se refletir sobre a tragédia e a contínua impunidade que envolve o caso.

Essa expressão artística, que ocorre em um cenário onde a justiça ainda não foi alcançada para as vítimas e suas famílias, buscando não apenas relembrar, mas também cobrar ações concretas para evitar que desastres como esse se repitam.

O evento se torna um importante espaço para dar voz às histórias e dores dos atingidos, utilizando o cinema como uma ferramenta de sensibilização e conscientização social. 

A tragédia de Brumadinho, que ceifou a vida de 272 pessoas, ainda hoje ecoa como um grito por justiça em um Brasil que vê seus crimes ambientais frequentemente negligenciados.

Assim também se deu com o rompimento da barragem da mineradora Samarco, que liberou 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos em Mariana (MG). O desastre ambiental deixou 19 mortos e impactou dezenas de municípios, chegando até a Foz do Espírito Santo.

Além de lembrar a tragédia, o evento também chama a atenção para os riscos contínuos que o modelo de exploração mineral no Brasil representa. 

A Mostra também abriu espaço para uma análise profunda e necessária sobre a relação intrínseca entre o capitalismo corporativo, os impactos ambientais e sociais das gigantes mineradoras, e o papel do poder público nesse cenário. 

O capitalismo corporativo, caracterizado pela busca incessante por lucro e crescimento econômico, frequentemente ignora os impactos socioambientais de suas operações. 

No setor de mineração, essa realidade se torna ainda mais evidente. As grandes mineradoras, ao explorarem recursos naturais em larga escala, frequentemente causam danos irreparáveis ao meio ambiente, destruindo ecossistemas inteiros e ameaçando a biodiversidade.

A relação entre as gigantes mineradoras e o poder público é marcada por um complexo jogo de interesses.

Iniciativas como a do Instituto Camila e Luiz Taliberti, que defende os direitos humanos com foco na proteção do meio ambiente e de grupos vulneráveis, mostram como é possível transformar a dor em mudanças sociais significativas.

Acreditamos que a arte tem o poder de transformar realidades. Por meio dela, buscamos, não apenas denunciar as atrocidades cometidas pela mineração, mas também inspirar um movimento de conscientização e engajamento. 

É preciso que todos compreendam a gravidade da situação e se unam na defesa do meio ambiente e dos direitos humanos.