Vivemos em um momento decisivo para o futuro do planeta. Ondas de calor recordes, chuvas intensas, secas severas e o avanço do nível do mar não são mais previsões distantes, são realidades que já afetam milhões de pessoas em diferentes partes do mundo. 

O cenário atual da crise climática exige atenção urgente e ação imediata. E diante de tantas informações, uma pergunta ainda ressoa entre muitas pessoas: o aquecimento global é realmente causado pelos seres humanos?

A resposta, cada vez mais clara e respaldada por um vasto corpo científico, é sim. Desde a Revolução Industrial, o uso crescente de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural tem gerado emissões massivas de gases de efeito estufa, que formam uma camada que retém o calor na atmosfera, aquecendo o planeta de maneira acelerada.

Esses impactos, embora globais, atingem de forma desproporcional os países e populações mais vulneráveis, em especial mulheres, povos originários, comunidades periféricas e habitantes de regiões afetadas por atividades extrativistas, como a mineração.

Discutir a origem humana da crise climática vai muito além de uma questão técnica: é um tema profundamente ligado à justiça ambiental e aos direitos humanos.

Porque enquanto alguns acumulam lucros com atividades poluentes, muitos enfrentam fome, deslocamentos forçados, perdas de moradia e risco à saúde, consequências diretas de um sistema que desrespeita os limites do planeta e os direitos de quem o habita.

Neste artigo, vamos entender por que a ciência afirma que o aquecimento global é causado pelos humanos, e como reconhecer essa responsabilidade é o primeiro passo para mudar o rumo da história.

O que é aquecimento global?

O aquecimento global é o aumento da temperatura média da superfície da Terra e dos oceanos ao longo do tempo. Esse fenômeno tem sido intensificado pelas atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural, o desmatamento e a agropecuária. 

Essas ações aumentam a emissão de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O).

Esses gases se acumulam na atmosfera e formam uma camada que retém o calor do sol, impedindo que ele se dissipe no espaço, o chamado efeito estufa

Esse efeito é natural e essencial para a vida no planeta, pois mantém a temperatura adequada para nossa sobrevivência. No entanto, o excesso de gases gerado por ações humanas está tornando essa “cobertura” cada vez mais espessa, fazendo com que o planeta aqueça de forma acelerada e perigosa.

Esse aquecimento desequilibra o sistema climático da Terra, afetando desde o regime das chuvas até a frequência de eventos extremos, como secas severas, enchentes, furacões e ondas de calor. E não se trata de uma previsão distante: esses impactos já estão sendo sentidos em diferentes regiões do mundo.

Entender o que é o aquecimento global é fundamental para percebermos a urgência de agir. Não é somente uma questão ambiental, mas também uma questão de justiça social e responsabilidade coletiva.

Qual é a diferença entre clima e tempo?

Embora muitas vezes usados como sinônimos, clima e tempo são conceitos distintos e entender essa diferença é fundamental para compreender as mudanças climáticas.

O tempo diz respeito às condições atmosféricas em um momento específico e em curto prazo. É o que sentimos e observamos no dia a dia: se está chovendo, se faz calor, se haverá ventos fortes ou uma frente fria nos próximos dias.

Por isso, consultamos a previsão do tempo para saber como nos vestir, se devemos levar guarda-chuva ou se é seguro viajar.

Já o clima é a média dessas condições ao longo de um período prolongado, geralmente 30 anos ou mais, em uma determinada região.

Ele ajuda a descrever padrões gerais como “o clima do sertão é semiárido” ou “o clima da Amazônia é quente e úmido”. Para definir o clima de um local, cientistas analisam longas séries de dados sobre temperatura, chuvas, umidade, ventos e outros fatores.

Essa distinção é importante porque o aquecimento global e as mudanças climáticas não se medem por um dia quente ou uma semana de frio fora do comum, mas sim por alterações nos padrões climáticos médios de longo prazo, como secas prolongadas em regiões que antes eram úmidas, ou o aumento gradual da temperatura média global.

Dados históricos: emissões e aumento de temperatura

Desde a Revolução Industrial, o aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) tem sido o principal motor do aquecimento global. O impacto humano no clima ficou cada vez mais evidente nas últimas décadas, com o aumento da concentração de CO₂ na atmosfera, que chegou a níveis históricos.

 A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a agricultura intensiva liberam grandes quantidades desses gases, alterando o equilíbrio climático da Terra.

O Relatório de Lacunas para as Emissões 2023, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), destacou que as emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 1,2% de 2021 para 2022, atingindo um novo recorde: 57,4 gigatoneladas de CO₂ equivalente (CO₂e) despejadas na atmosfera. 

O relatório alerta que, com as metas climáticas atuais, o mundo está no caminho de um aumento de 2,5°C a 2,9°C até o final deste século, quase o dobro do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. Isso coloca em risco a estabilidade do clima global e o futuro das próximas gerações.

Para evitar que a temperatura média global suba além de 1,5°C, seria necessário um corte de 42% nas emissões até 2030. Porém, as ações atuais estão muito aquém dessa necessidade. 

A dependência de combustíveis fósseis, a lentidão na implementação de soluções de baixo carbono e a falta de ação suficiente para proteger os ecossistemas naturais, como as florestas tropicais, estão contribuindo para que o planeta continue em direção a um futuro mais quente.

O Brasil, embora tenha implementado algumas iniciativas importantes para combater o desmatamento e reduzir suas emissões, continua sendo um dos cinco maiores emissores globais de gases de efeito estufa, com destaque para o desmatamento da Amazônia

Em 2021, as mudanças no uso da terra, como o desmatamento e outras atividades que alteram a vegetação natural, representaram 61% das emissões brasileiras, sendo um dos principais fatores que impactam o meio ambiente no país.  

O Brasil, junto com a Indonésia e a República Democrática do Congo, responde por 58% das emissões provenientes do desmatamento, que é responsável por liberar gigatoneladas de CO₂ na atmosfera, acelerando o aquecimento global.

A situação é alarmante, pois o desmatamento não apenas libera CO₂, mas também reduz a capacidade do planeta de absorver carbono, aumentando o efeito estufa. As florestas são essenciais no equilíbrio climático, pois atuam como reservas naturais de carbono, ou seja, elas capturam e armazenam o dióxido de carbono da atmosfera durante o processo de fotossíntese. 

Quando as árvores são derrubadas ou queimadas, essa enorme quantidade de carbono armazenada é liberada de volta, agravando o efeito estufa. Além disso, a perda de vegetação diminui a capacidade das florestas de continuar absorvendo CO₂, intensificando ainda mais o aquecimento global.

 Sem a cobertura florestal, a quantidade de carbono na atmosfera tende a aumentar rapidamente, contribuindo para um ciclo vicioso em que o aumento das emissões acelera a destruição das florestas, reduzindo a capacidade do planeta de mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Nesse cenário, a atuação do Brasil no combate ao desmatamento, especialmente na Amazônia, torna-se mais do que importante

Se o país continuar a combater de forma eficaz o desmatamento, especialmente na Amazônia, poderá contribuir significativamente para a redução das emissões globais e para a redução dos impactos das mudanças climáticas.

Emissões e desmatamento são questões fundamentais para o futuro do Brasil e do mundo. Embora haja avanços nas políticas e iniciativas para proteger as florestas e reduzir o desmatamento, a tarefa é gigantesca. 

É urgente que o país adote uma ação climática mais ambiciosa, reforçando a implementação de políticas de preservação ambiental, além de atuar para reduzir o uso de combustíveis fósseis e adotar fontes de energia renováveis.

O impacto do transporte nas emissões de GEE

O setor de transporte é um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e no mundo. Em 2023, o Brasil registrou um recorde histórico no consumo de combustíveis fósseis, com destaque para o uso de diesel e gasolina nos veículos.

O setor de transporte representou 44% das emissões totais de CO₂ equivalentes (CO₂e) no país, somando 223,8 milhões de toneladas de GEE, o que significa um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior.

Esse aumento, embora moderado, foi impulsionado pelo maior consumo de combustíveis fósseis devido ao crescimento econômico do país. 

No entanto, é importante destacar que o setor de transporte começou a transitar para fontes de energia renováveis, com a participação de biodiesel e etanol na matriz de combustíveis aumentando em 0,5%, alcançando 22,5% em 2023. 

O biodiesel, por exemplo, é produzido a partir de fontes orgânicas, como óleos vegetais e gorduras animais, e sua queima emite menos CO₂ do que o diesel convencional, pois o carbono liberado durante a combustão é compensado pela quantidade de carbono absorvida pelas plantas utilizadas para sua produção. 

O etanol, por sua vez, é um combustível derivado da cana-de-açúcar ou milho, sendo considerado uma fonte limpa de energia, pois sua produção e queima geram uma menor quantidade de gases de efeito estufa em comparação aos combustíveis fósseis.

Esses combustíveis renováveis, ao contrário do diesel e da gasolina, que são derivados do petróleo e liberam grandes quantidades de CO₂ e outros poluentes na atmosfera, contribuem para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e minimizar os impactos ambientais. 

No entanto, apesar de serem opções mais limpas, a transição para essas fontes de energia ainda não é suficiente para mitigar completamente os efeitos do uso contínuo de combustíveis fósseis.

Dentro do setor, os automóveis de passageiros foram os maiores responsáveis pelas emissões, respondendo por 67% das emissões do transporte, seguidos pelo transporte de cargas, que, apesar de representar uma menor parcela das emissões do setor, é o maior consumidor de diesel de petróleo.

A mineração e seu impacto no desmatamento e no aquecimento global

A mineração é uma das principais atividades responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, consequentemente, pelo aquecimento global. De acordo com um estudo da consultoria McKinsey de 2021, a mineração responde por aproximadamente 7% das emissões de GEE provenientes da atividade humana

Quando consideradas as emissões indiretas, esse número pode atingir impressionantes 28%. Isso ocorre principalmente devido ao beneficiamento de minérios e à produção de metais como aço e alumínio, que demandam grandes quantidades de energia, além da queima de carvão mineral para a geração de eletricidade.

A mineração não apenas contribui para o aquecimento global através das emissões diretas de GEE, mas também tem um impacto sobre o meio ambiente, especialmente nas regiões mais sensíveis, como a Amazônia e a Mata Atlântica.

De acordo com um estudo publicado pelo World Resources Institute (WRI), 11% das florestas intactas do mundo estão sob ameaça das concessões de mineração e 60% dessas áreas estão localizadas no Brasil

Este desmatamento intensifica as emissões de CO₂ na atmosfera, o que agrava ainda mais os efeitos das mudanças climáticas, comprometendo a biodiversidade e a capacidade de absorção de carbono da floresta.

No Brasil, a mineração é um dos principais responsáveis pelo desmatamento, especialmente em estados como Minas Gerais, onde a atividade mineradora causa danos irreparáveis. 

Entre outubro de 2021 e outubro de 2022, o estado foi responsável pela derrubada de 7,4 mil hectares da Mata Atlântica, o que equivale a mais de dez mil campos de futebol

Esse desmatamento não apenas intensifica as emissões de GEE, mas também contribui para a desertificação e o aumento da vulnerabilidade a fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas.

Em 2023, o desmatamento causado pela mineração já é maior que o registrado em 2022, evidenciando que, apesar das tentativas de mitigação, o setor continua a ser uma força destrutiva na Amazônia e em outras regiões do Brasil.

Essa realidade está vinculada à falta de fiscalização adequada e à crescente demanda por minerais essenciais para a transição energética, como lítio, nióbio e cobre, fundamentais para a produção de baterias e tecnologias limpas.

A mineração também gera grande impacto social, com o deslocamento de comunidades tradicionais, vitais para a proteção ambiental e a preservação das florestas

Como afirma Luiz Paulo Siqueira, do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a mineração no Brasil, especialmente a de ferro e ouro, está diretamente associada ao processo de desertificação, prejudicando as comunidades rurais e agravando a crise ambiental.

Em contrapartida, o setor minerador tem baixo retorno econômico em relação aos seus impactos ambientais e ao uso de energia. Embora a mineração represente apenas 3% do PIB nacional, ela é responsável por 11% do consumo de energia no Brasil, o que gera uma grande discrepância entre o impacto ambiental e os benefícios econômicos proporcionados.

Enquanto a pressão para a transição energética cresce, o modelo atual da mineração se torna cada vez mais insustentável. O uso de minerais para a produção de baterias e tecnologias limpas levanta preocupações sobre a sustentabilidade dessa exploração. 

Para Luiz Paulo Siqueira, enquanto a mineração continuar a seguir a lógica do capitalismo extrativista, ela não será uma solução para a crise climática, mas sim um fator que acelera o problema.

A mineração, portanto, não só contribui diretamente para o aquecimento global através das emissões de gases de efeito estufa e do desmatamento, mas também agrava os impactos ambientais e sociais, tornando ainda mais urgente a necessidade de reformas estruturais no setor

Relatórios do IPCC: o alerta científico para o futuro climático

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é a principal autoridade científica global sobre o clima. Seus relatórios fornecem uma análise detalhada e embasada sobre as mudanças climáticas e os seus impactos, e suas conclusões têm guiado as políticas climáticas internacionais.

O relatório mais recente do IPCC, lançado em 2023, traz alertas alarmantes sobre o futuro do planeta. Ele confirma que, com o aquecimento global já atingindo 1,1°C desde os níveis pré-industriais, estamos apenas começando a ver os efeitos mais drásticos das mudanças climáticas. 

O relatório aponta que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem em níveis elevados, o planeta pode aquecer até 5,7°C até o final do século, o que acarretaria consequências catastróficas, como ondas de calor extremas, elevação do nível do mar e perda de biodiversidade em grande escala.

Apesar de ser um cenário desafiador, o IPCC também nos mostra que ainda há tempo para limitar o aquecimento global a 1,5°C, desde que sejam tomadas ações imediatas. Isso significa reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. 

O relatório reforça a necessidade de ações decisivas nesta década para evitar os piores impactos, e que pequenas mudanças não serão suficientes. Precisamos de transformações nos sistemas de energia, transporte, agricultura e uso da terra.

Além disso, o IPCC destaca que cada fração de grau a mais de aquecimento trará consequências mais graves e irreversíveis. Fenômenos como incêndios florestais, enchentes, secas e ondas de calor são, em grande parte, impulsionados pelas atividades humanas. 

O relatório também observa que, mesmo com o corte imediato de emissões, alguns impactos já são irreversíveis, como a elevação do nível do mar e a destruição de ecossistemas.

Para evitar um futuro de desastres climáticos, os cientistas do IPCC alertam que a ação climática deve ser acelerada e que todos os setores da sociedade, incluindo governos, empresas e cidadãos, devem adotar medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A transição para fontes de energia renováveis, a preservação das florestas e o uso mais eficiente dos recursos naturais são algumas das ações chave para garantir um futuro sustentável.

Principais mitos sobre o aquecimento global

1. “A mudança climática não é real”

Apesar de algumas pessoas questionarem a existência do aquecimento global, a grande maioria dos cientistas, cerca de 99%, concorda que a mudança climática é real e é causada pela ação humana.

Desde 1850, a temperatura média global já aumentou cerca de 1,1°C. Além disso, a intensificação dos eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas, tem se tornado cada vez mais evidente em todo o mundo, o que comprova a realidade das mudanças climáticas.

2. “A mudança climática é um problema do ocidente”

Embora países mais industrializados, como EUA e Reino Unido, tenham sido historicamente os maiores emissores de gases de efeito estufa, a mudança climática é um problema global. Não é algo restrito ao Ocidente. 

Países em desenvolvimento, como os das pequenas nações insulares ou o Paquistão, já estão sentindo os impactos das mudanças climáticas, que são intensificadas pelo aquecimento global. Além disso, as nações mais pobres tendem a ser as mais afetadas, devido à falta de recursos para se adaptar aos efeitos climáticos.

3. “A mudança climática pode ser boa para nós”

Em regiões com clima frio, a ideia de um planeta mais quente pode parecer atraente à primeira vista. No entanto, qualquer possível benefício marginal, como temperaturas mais amenas, é amplamente superado pelos impactos devastadores da mudança climática. 

A previsão é de que o aumento da temperatura global em 1,5°C até o final do século custe ao mundo US$ 54 trilhões, com consequências catastróficas, como a perda de áreas agrícolas no Oriente Médio, a submersão de nações insulares no Pacífico e a escassez de alimentos em várias partes do mundo.

4. “O nível do mar não está subindo. São apenas as marés”

O aumento do nível do mar é uma realidade e está diretamente relacionado ao aquecimento global. Desde o início do século 20, o nível do mar global subiu de 160 a 210 mm

Isso ocorre principalmente devido ao derretimento das geleiras e à expansão térmica da água à medida que ela esquenta. Enquanto as marés podem ter variações diárias, o aumento do nível do mar é um fenômeno de longo prazo, com efeitos claros, como erosão costeira e inundações em áreas baixas e populações costeiras.

5. “É tarde demais para corrigir as mudanças climáticas”

Embora a mudança climática já esteja em andamento e seus efeitos sejam irreversíveis em algumas áreas, como a elevação do nível do mar, ainda há tempo para tomar ações significativas

Com a implementação de políticas de redução de emissões, investimentos em energia renovável e estratégias de adaptação, é possível evitar os piores cenários climáticos. Cada ação que tomarmos agora, por menor que seja, faz a diferença e pode ajudar a limitar o aquecimento global a níveis mais seguros.

Quem lucra com a negação da crise climática?

No Brasil, a destruição ambiental impulsionada pelo agronegócio e pelas grandes indústrias continua a crescer, refletindo diretamente na intensificação dos extremos climáticos.

Grandes propriedades agrícolas, voltadas para monoculturas, e a queima de florestas para ampliar áreas de cultivo não apenas aceleram o desmatamento mas também comprometem a produção de alimentos e aumentam os preços, agravando a insegurança alimentar de milhões de pessoas.

No entanto, essa crise não afeta a todos de maneira igual. Pequenos produtores e comunidades agrícolas sustentáveis, que adotam a agroecologia, enfrentam enormes desafios diante do modelo agropecuário predatório

Enquanto esses pequenos agricultores lutam para produzir alimentos saudáveis e sustentáveis, grandes corporações concentram terras, desmatam e aplicam agrotóxicos, priorizando lucros ao invés do bem-estar da população e do meio ambiente.

A mineração, um dos setores mais lucrativos e também mais destrutivos para o meio ambiente, também lucra com o negacionismo climático. A extração de minerais, especialmente em regiões ricas em biodiversidade como a Amazônia, está diretamente associada ao desmatamento, à poluição de rios e ao aumento das emissões de gases de efeito estufa. 

As mineradoras têm se beneficiado da falta de fiscalização e de incentivos fiscais que tornam suas atividades ainda mais rentáveis, enquanto o impacto ambiental dessas operações continua a crescer.

Além disso, a mineração é responsável pela liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂), tanto pela queima de combustíveis fósseis necessários para os processos de extração, quanto pela liberação do carbono armazenado nas florestas e no solo quando as áreas são desmatadas para abrir espaço para as atividades mineradoras.

O papel do negacionismo climático

Por trás desse sistema, há um movimento negacionista que continua a dissociar a ciência das decisões políticas. Negacionistas climáticos, frequentemente aliados de grandes interesses econômicos, propagam a ideia de que a crise climática é exagerada ou, até mesmo, uma farsa. 

Esses indivíduos e grupos não apenas questionam a ciência, mas muitas vezes desacreditam os dados e relatórios provenientes de fontes confiáveis como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Sua retórica serve para atrasar a adoção de políticas públicas necessárias para combater o aquecimento global.

Estudos e especialistas alertam sobre os riscos do negacionismo climático: ao ignorar a ciência e a necessidade urgente de ação, esses grupos contribuem para que interesses particulares prevaleçam, enquanto as consequências ambientais se tornam mais devastadoras.

No Brasil, o negacionismo climático é alimentado por algumas figuras políticas e setores econômicos que se beneficiam diretamente da exploração predatória dos recursos naturais, como as indústrias de petróleo, carvão e gás, que recebem subsídios governamentais.

É urgente que os governos e as instituições adotem políticas mais radicais e sustentáveis para combater a crise climática, passando pela reforma agrária e pelo incentivo à agroecologia, que podem regenerar o solo, combater as mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar para as populações vulneráveis.

 A transição energética, com o foco em energias renováveis, também é essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e desacelerar os impactos da crise climática.

No entanto, para que essa transformação aconteça, é preciso que a sociedade se mobilize contra as forças que ainda lucram com a negação da crise climática e com práticas predatórias que exploram tanto o meio ambiente quanto as populações mais vulneráveis.  O futuro do planeta depende das escolhas políticas que faremos agora.

Impacto desproporcional sobre populações vulneráveis, principalmente mulheres

As mudanças climáticas não afetam todas as pessoas de maneira igual. Populações mais vulneráveis, como mulheres, crianças, comunidades periféricas e de baixa renda, são as mais atingidas por eventos climáticos extremos. No caso das mulheres, esse impacto é ainda mais acentuado devido a fatores sociais e econômicos.

Um estudo realizado pela CNN Brasil revelou que, em média, mulheres emitem 26% menos gases de efeito estufa que os homens. Embora as mulheres contribuam significativamente menos para a emissão de gases que agravam as mudanças climáticas, são justamente elas as que mais sofrem com suas consequências. 

Essa desproporcionalidade é resultado da divisão desigual de responsabilidades e acesso a recursos em diversas sociedades, onde as mulheres frequentemente enfrentam dificuldades maiores para se adaptar e reagir a crises ambientais.

No contexto das mudanças climáticas, as mulheres, especialmente em países em desenvolvimento, são frequentemente as principais responsáveis pelo cuidado da casa, da família e do cultivo de alimentos

Quando há secas ou inundações, elas precisam lidar com a escassez de água, com o aumento da carga de trabalho e com o deslocamento forçado devido à destruição de suas casas e fontes de renda. 

Além disso, em muitas regiões, as mulheres têm um acesso mais restrito a recursos econômicos e sociais, o que dificulta ainda mais sua capacidade de adaptação a essas mudanças.

As mulheres rurais, especialmente as que pertencem a comunidades indígenas e quilombolas, enfrentam uma carga ainda maior. Elas são frequentemente responsáveis pela agricultura de subsistência, o que as torna mais vulneráveis à escassez de alimentos e ao impacto de desastres naturais. 

Em situações de crise, a desigualdade de gênero se traduz em menor acesso à ajuda humanitária, o que agrava ainda mais sua condição de vulnerabilidade.

Além disso, as mulheres são mais suscetíveis aos impactos psicológicos das mudanças climáticas. Em muitas sociedades, elas assumem a maior parte das responsabilidades familiares, o que pode causar sobrecarga emocional, especialmente em momentos de estresse e insegurança. 

As mudanças climáticas, portanto, não apenas aumentam a carga física de trabalho das mulheres, mas também têm um impacto negativo em sua saúde mental e emocional.

Portanto, a questão da justiça climática não pode ser dissociada da luta pela igualdade de gênero. Para que as políticas climáticas sejam eficazes, elas precisam ser inclusivas e levar em consideração as necessidades e realidades das mulheres. 

Ao integrar a perspectiva de gênero na resposta às mudanças climáticas, é possível garantir que as mulheres não só participem da construção de soluções, mas que também tenham acesso a recursos e condições para se adaptarem aos desafios impostos pelas mudanças no clima.

Do individual ao coletivo: caminhos para enfrentar a crise climática

Enfrentar o aquecimento global exige um esforço coletivo, mas também começa com ações individuais. Apesar da magnitude do problema, cada pessoa pode fazer escolhas que, somadas, ajudam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proteger o meio ambiente.

Ao mesmo tempo, é fundamental pressionar empresas e governos por mudanças estruturais e políticas públicas eficazes.

Ações Individuais: escolhas que importam

Adotar hábitos sustentáveis no dia a dia pode ter um impacto significativo. Pequenas atitudes, como reduzir o consumo de carne, uma das maiores fontes de emissões no Brasil, evitar o desperdício de alimentos, optar por produtos locais e da agricultura familiar, economizar água e energia, e dar preferência ao transporte não motorizado, como caminhar ou usar bicicleta, fazem a diferença.

Outro ponto importante é o consumo consciente: escolher produtos duráveis, reutilizáveis, apoiar empresas comprometidas com práticas ambientais e evitar o desperdício de recursos.

Isso inclui também o uso do próprio dinheiro como ferramenta de mudança, investindo em iniciativas sustentáveis e evitando instituições financeiras que financiam atividades poluentes, como o desmatamento ilegal ou a mineração predatória.

Ações coletivas: pressionar por transformações estruturais

Apesar das atitudes individuais serem importantes, elas não são suficientes por si só. É essencial exigir políticas públicas que promovam a conservação da natureza, a redução do desmatamento, a transição energética para fontes limpas e investimentos em mobilidade urbana sustentável.

Ações estruturais, como o fortalecimento da agroecologia, a reforma agrária e a criação de legislações ambientais mais rigorosas, dependem da mobilização social e da cobrança da população.

Além disso, participar de movimentos sociais, apoiar organizações da sociedade civil e articular-se politicamente são formas de ampliar o impacto das ações individuais e transformar a sociedade de maneira mais justa e sustentável.

Como reforça a Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, “não é mais uma decisão apenas governamental, é necessária a participação de todos”. O combate às mudanças climáticas exige uma mudança cultural e estrutural urgente e começa agora, com as escolhas que fazemos todos os dias. 

É preciso viver com mais simplicidade, responsabilidade e solidariedade, unindo esforços para garantir um futuro habitável para todas e todos.

Por que a transição energética é essencial?

A transição energética é o processo de substituição das fontes de energia poluentes por alternativas limpas e renováveis, como a solar, a eólica, o biogás e o hidrogênio verde. Essa mudança não é apenas uma solução ambiental. 

Ela também representa uma oportunidade econômica e social: reduz custos no longo prazo, cria empregos e melhora a qualidade de vida, especialmente em regiões mais vulneráveis.

O que tem sido feito?

Governos, empresas e organizações da sociedade civil já estão se mobilizando. Algumas das principais iniciativas incluem:

  • Criação de políticas públicas específicas: estados como o Rio de Janeiro estão desenvolvendo leis para impulsionar a transição energética, considerando suas características locais.
  • Incentivos à inovação: surgem cada vez mais projetos que combinam tecnologia e sustentabilidade, como os chamados hubs energéticos, que concentram produção e consumo de energia limpa em regiões estratégicas.
  • Desinvestimento em fósseis: cresce o movimento por eliminar subsídios aos combustíveis fósseis e direcionar esses recursos para fontes renováveis.
  • Mobilização internacional: fóruns como a COP e o G20 têm reforçado o compromisso global com metas de descarbonização e financiamento da transição em países em desenvolvimento.

No entanto, apesar das promessas e dos compromissos firmados em discursos e eventos internacionais, a realidade muitas vezes anda em ritmo mais lento. Políticas públicas ainda patinam na implementação, e grandes subsídios continuam alimentando combustíveis fósseis. 

A transição energética, embora urgente e possível, ainda enfrenta obstáculos políticos, econômicos e estruturais que desafiam a concretização do que é dito na teoria. 

Entre responsabilidade e reparação: o caminho da justiça climática

O aquecimento global é, sem dúvida, uma das maiores ameaças do nosso tempo e também um dos maiores espelhos da desigualdade e da injustiça que marcam a relação entre sociedade, economia e meio ambiente. 

Como demonstrado ao longo deste artigo, há consenso científico de que ele é causado, majoritariamente, pelas atividades humanas, e seus impactos recaem de forma desproporcional sobre as populações mais vulneráveis.

Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para transformar o cenário. A urgência da ação climática não diz respeito apenas à redução de emissões ou à substituição de combustíveis fósseis, mas à construção de um novo modelo de sociedade, mais justo, inclusivo e sustentável. Isso exige mudanças estruturais.

O futuro ainda pode ser escrito com base em solidariedade, justiça e responsabilidade coletiva. Depende de todos nós. Agir agora é não apenas uma escolha, mas uma obrigação com as próximas gerações e com todas as formas de vida que compartilham este planeta.