Publicado em: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/288463/um-ano-apos-tragedia-em-brumadinho-investigacao-se.htm

Enquanto isso, bombeiros e Polícia Civil de Minas Gerais se desdobram para tentar dar respostas às famílias de 11 pessoas que continuam desaparecidas. O rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro de 2018, se tornou um dos maiores desastres já ocorridos no país, com 270 mortos e danos profundos ao meio ambiente.

Um ano de luto. Desde o rompimento da barragem da Vale, as famílias que aguardavam notícias dos 270 mortos na lama se reúnem em Brumadinho, todo dia 25 de cada mês, para homenagear as vítimas.

Nas cerimônias eles também fazem chamadas dos nomes daqueles que ainda não foram encontrados. Essa lista foi reduzindo ao longo do tempo. Quase um ano depois, ainda há 11 vítimas sem localização.

Lecilda de Oliveira, de 49 anos, funcionária da Vale está nesse grupo. Não poder se despedir é o que mais causa sofrimento aos familiares dela. Natália de Oliveira, irmã de Lecilda, relata que a cada dia que passa cresce o temor de que o corpo nunca seja encontrado.

“Além de viver essa angústia do esperar, a gente ainda vive a angústia de não saber se a nossa espera vai valer a pena. Nós estamos aqui todo dia esperando que o telefone toque e fale que encontrou a minha irmã, mas a gente não tem nenhuma certeza se isso vai acontecer, porque ela pode não ser encontrada. O IML conseguir a identificação de 96% (das vítimas) é muita coisa, eu reconheço, mas o 4% que falta a minha irmã está lá”, lamenta Lecilda.

Os bombeiros já vistoriaram 95% da área atingida pela lama, em uma profundidade de até três metros. A corporação ainda não sabe o que será feito quando esse procedimento acabar, mas diz que a operação ainda não tem data para ser encerrada.

Atualmente, o Instituto Médico Legal de BH analisa 45 fragmentos de corpos encontrados pelos bombeiros. São amostras em avançado estado de decomposição e de difícil identificação. Por isso, o único método possível, é por análise de DNA. O chefe do setor de tanatonologia forense do IML de BH, Ricardo Araújo, avalia que a probabilidade dos desaparecidos estarem entre esses os 45 fragmentos é muito pequena:

“Não é impossível, mas é muito pouco provável. A gente entende que essas 11 famílias estão vivendo uma tragédia dentro da tragédia. Podem contar com o trabalho de todo mundo que está envolvido para poder dar essa resposta o mais rápido possível. É um desejo nosso como instituição e como cidadão também.”

E mesmo pra quem já teve a oportunidade de enterrar os parentes mortos, a dor da perda não passa. A economista, Helena Taliberti perdeu, na tragédia, os dois filhos; além da nora, que estava grávida. Também morreram no desastre, o ex-marido de Helena e a esposa dele. Os cinco estavam hospedados em uma pousada que foi soterrada pela lama. Helena relata que encontrou forças para tentar superar a tragédia, quando decidiu criar o Instituto Camila e Luiz Talibert.

“Reconstruir a vida passa pela criação do instituto, que tem como objetivo a defesa dos direitos humanos em duas vertentes: o empoderamento de grupos vulneráveis, especialmente as mulheres e na proteção do meio ambiente. O instituto tem me dado um ânimo, de ver como os amigos da Camila e do Luiz estão engajados nesse projeto. E isso tem me feito muito bem, tem me mantido com vontade de levantar da cama”, afirma

Um ano após o desastre, autoridades ainda trabalham nas investigações sobre o caso. O Ministério Público de Minas afirma que vai apresentar a denúncia em breve. Paralelamente, a Polícia Federal afirma que aguarda a conclusão de perícias, que devem ficar prontas só em junho. Especialistas de duas universidades europeias fazem essas estudos. A PF já indiciou 13 funcionários da Vale e da empresa alemã que atestou a estabilidade da barragem por uso de documentos falsos.

A Vale garante que já reservou mais de R$ 24 bilhões para pagar indenizações e ações de reparação de danos ao meio ambiente relativos à tragédia em Brumadinho. Em 2019 foram gastos R$ 4,5 bilhões. A mineradora fez 268 acordos extrajudiciais para pagamento de indenizações até o momento, por meio da Defensoria Pública de Minas Gerais. Outros 236 pedidos estão em andamento. A Vale mantém pagamentos de até um salário mínimo para as 106 mil pessoas atingidas pela tragédia. Três assessorias técnicas independentes definidas pela justiça já estão atuando para ajudar as famílias atingidas a definir as indenizações que serão pleiteadas.