O Brasil segue sendo um país onde os dados de violência contra a mulher retratam uma epidemia. Uma violência que está nas ruas, nas redes sociais, nos tribunais de justiça, em casa, nos hospitais – incluindo aqui, até mesmo, a sala de parto.
E sabemos que se a mulher for negra, o sofrimento dela é ainda maior, pois além de ser vítima do machismo, é também do racismo, seja ele estrutural, direto, velado, revelado, declarado.
Quando damos um passo à frente em relação ao combate à violência de gênero, parece que atualmente damos outros quatro passos para trás. Um dos exemplos disso foi, recentemente, quererem distorcer o caso Maria da Penha. Depois de tantos anos de luta desta mulher extraordinária, que sofreu duas tentativas de feminicídio pelo ex-marido, a ponto de dar nome a uma das leis mais importantes do mundo na proteção das mulheres, surge um grupo munido de fakenews para mudar os rumos da história. Não, Maria da Penha não foi vítima de um assalto e não, o ex-marido dela não é nenhum coitado, é um criminoso.
Os casos de violência doméstica seguem explodindo, com assassinos que chegam a matar a família inteira “porque não aceitavam o fim do relacionamento”.
A violência instituída por aqui chega a atingir inclusive meninas, como a criança de 11 anos, grávida após estupro, proibida de realizar um aborto que é garantido por lei. Lembrando que qualquer relação sexual com uma menina menor de 14 anos é estupro.
Basta uma pesquisa rápida na internet sobre violência contra a mulher neste último mês para gerar angústia e revolta, sem contar os milhares de casos que nem são divulgados. Mulheres assediadas no trabalho, em locais públicos e até mesmo num hotel, como o caso da modelo negra que entrou em desespero com a insistência de um dos hóspedes em fazer sexo com ela. Ele chegou a oferecer dinheiro.
E não podemos esquecer de um dos episódios recentes mais inacreditáveis, que foi o do médico estuprando a paciente da hora do parto.
Impossível não destacar aqui a palavra machismo. Todas essas violências contra a mulher praticadas por criminosos têm o machismo como uma de suas principais origens: é a sensação do homem que se acha melhor ou superior à mulher, a ponto de se sentir dono dela, de tratá-la como objeto, de humilhá-la, agredi-la ou até mesmo de matá-la e tudo mais de ruim que sabemos que o machismo provoca.
Por isso também precisamos falar em feminismo, dessa nossa luta por igualdade de direitos, por respeito e pelo fim da violência que nos assola. E daí vem uma outra palavra com uma força enorme: sororidade, que é a união entre as mulheres, quando umas ajudam as outras.
Mas essas mulheres que se unem também precisam do apoio de homens conscientes e dependem do poder público. Para que não só se criem as leis, mas para que elas sejam cumpridas, para que essas mulheres tenham onde e como buscar ajuda, mas, principalmente, para que seja promovida uma conscientização global da sociedade em busca da prevenção e da proteção dessas mulheres. Assim, quem sabe, um dia, violência de gênero nem seja mais um tema a ser discutido. Utopia? Não custa ter esperança.
Acredito que informar é uma das maneiras de criar esta consciência coletiva e, por isso, tive a honra de participar da Série Taliberta sobre violência doméstica, disponível do Canal do Instituto Camila e Luiz Taliberti no youtube. A querida Camila também acreditava nisso e lutava contra a violência de gênero. A série foi inspirada nela.
Não sejamos coniventes, vamos combater a violência de gênero. Isso é urgente.
Para acessar a cartilha Taliberta, clique aqui.
Texto por Mariana Kotcho, jornalista; colunista da Universa/UOL e do Bem Estar/Rede Globo; mentora de curso para jornalistas do Dart Center/Columbia University.