A COP 29, ou 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), é mais um marco em uma longa trajetória de encontros globais voltados para dar resposta à crise climática.
O evento aconteceu em Baku, no Azerbaijão, e carregou a missão urgente de impulsionar ações mais concretas para limitar os impactos das mudanças climáticas e fomentar uma transição energética global.
O papel da COP 29 é central: trata-se de reunir lideranças e especialistas do mundo todo para rever as metas já estabelecidas, ajustar compromissos e, acima de tudo, garantir a implementação das políticas necessárias para cumprir o Acordo de Paris.
Desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, na COP 21, quase 200 países se comprometeram a conter o aquecimento global, estabelecendo a meta de limitar o aumento da temperatura média global a 2°C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para mantê-lo abaixo de 1,5°C.
Essa meta é crítica, pois qualquer elevação superior pode resultar em eventos climáticos extremos, perda significativa de biodiversidade, aumento do nível do mar e ameaças para milhões de pessoas, especialmente em regiões vulneráveis. A COP 29, portanto, ocorre em um cenário no qual as evidências científicas continuam a enfatizar que o tempo para ação é curto, e os compromissos climáticos precisam ser transformados em ações rápidas e eficazes.
O Acordo de Paris: metas e importância global
O Acordo de Paris representa um pacto histórico e global que propõe ações coletivas para enfrentar o maior desafio ambiental do século XXI. Ao contrário de acordos anteriores, como o Protocolo de Kyoto, o Acordo de Paris é inclusivo e voluntário, incentivando todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, a assumirem metas de redução de emissões, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Além de englobar a mitigação de emissões, o acordo aborda a adaptação às mudanças climáticas e o financiamento climático para apoiar nações em desenvolvimento.
Entre os pontos-chave do Acordo de Paris, estão o comprometimento em atingir a neutralidade climática até 2050 e o estímulo à criação de mercados de carbono que incentivem a cooperação entre nações.
No entanto, para que essas promessas se tornem realidade, é fundamental que as metas táticas sejam ambiciosas e que haja transparência no cumprimento dessas metas. Outro aspecto essencial é o financiamento climático, com o objetivo de mobilizar pelo menos US$100 bilhões anuais para apoiar países que enfrentam dificuldades em financiar suas próprias ações climáticas.
A COP 29: urgência e desafios
A COP 29 assumiu a responsabilidade de revisar as NDCs (metas e os compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa) de cada país, pressionando por uma maior ambição climática para atender às metas do Acordo de Paris. A conferência abordou temas como financiamento climático, adaptação, inovação tecnológica e, especialmente, a transição energética.
Este último é fundamental para a redução de emissões, exigindo a substituição progressiva de combustíveis fósseis por energias renováveis, uma tarefa que demanda colaboração internacional, recursos financeiros e uma transferência de tecnologias limpas para nações em desenvolvimento.
Outro ponto de destaque da COP 29 foi o debate sobre perdas e danos, ou seja, os impactos das mudanças climáticas que já são irreversíveis, como eventos climáticos extremos e o aumento do nível do mar.
Este assunto é particularmente relevante para os países mais vulneráveis, como as ilhas de baixo relevo, incluindo as Maldivas, as Ilhas Marshall, a Polinésia Francesa, Vanuatu, Nova Caledônia, Papua Nova Guiné e Tuvalu. Além disso, outras regiões, como Etiópia, Somália, Sudão e Síria, também enfrentam de maneira desproporcional os impactos das mudanças climáticas e frequentemente não dispõem dos recursos necessários para se adaptar a essas transformações.
Cenário atual das mudanças climáticas
O mundo enfrenta um momento crítico na luta contra as mudanças climáticas. A crescente intensidade de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e furacões, demonstra que a ação é urgente e é uma necessidade incontestável.
Em meio a este cenário, a transição energética, o financiamento climático e a adaptação às mudanças climáticas emergem como tópicos centrais que definiram o impacto e o legado da conferência.
O aquecimento global é o fenômeno do aumento gradual das temperaturas médias da Terra, causado em grande parte pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Embora o efeito estufa seja um processo natural necessário para a manutenção da vida, sua intensificação pela ação humana, especialmente pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento, provoca um aumento anormal da temperatura global. Esse aquecimento gera consequências devastadoras, como o derretimento de calotas polares, o aumento do nível do mar e uma maior frequência de eventos climáticos extremos.
Desde a Revolução Industrial, a concentração de CO₂ na atmosfera cresceu de forma significativa, intensificando o efeito estufa. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), existe 90% de certeza de que o aumento da temperatura global é resultado das atividades humanas.
Entre os principais GEE estão o dióxido de carbono (CO₂), o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O), com diferentes potenciais de aquecimento, sendo o CO₂ responsável por mais de 70% das emissões globais.
As principais fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) incluem:
Setor de energia, indústria, agricultura, desmatamento e uso da terra, resíduos sólidos e tratamento de esgoto.
A COP 29 vem como um ponto decisivo para a ação climática global. Ao fortalecer compromissos, revisar metas e ampliar o apoio financeiro e tecnológico para as nações em desenvolvimento, essa conferência tem o potencial de catalisar uma ação climática eficaz.
O legado da COP 29 dependerá do compromisso e da colaboração internacional para enfrentar os desafios climáticos e assegurar que o Acordo de Paris não seja apenas uma promessa, mas uma realidade tangível para as próximas gerações.
Papel do Brasil e de países em desenvolvimento
Os países em desenvolvimento enfrentam desafios complexos no cumprimento das metas climáticas. Por um lado, eles precisam crescer economicamente para melhorar as condições de vida de suas populações; por outro, devem reduzir emissões e adotar tecnologias mais limpas.
O Brasil, por exemplo, ratificou o Acordo de Paris em 2016 e se comprometeu a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, tomando como base os níveis de 2005. A nova NDC brasileira também inclui uma meta mais ambiciosa: reduzir entre 59 e 67% as emissões até 2035 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Para atingir essas metas, o Brasil tem implementado medidas como a expansão do uso de energias renováveis, com a meta de alcançar uma matriz energética com 45% de fontes renováveis até 2030. Além disso, o reflorestamento de 12 milhões de hectares e o combate ao desmatamento ilegal são prioridades, uma vez que a destruição das florestas tropicais é uma das maiores fontes de emissões no país. A recente redução de 30,63% no desmatamento da Amazônia e de 25,7% no Cerrado demonstra o comprometimento do governo brasileiro em mitigar suas emissões.
Apesar dos avanços, os desafios permanecem significativos. Nos últimos anos, o Brasil enfrentou recordes de queimadas que comprometem os esforços de mitigação. Em 2024, o país registrou mais de 17 mil focos de incêndio nos primeiros quatro meses, o maior número para o período janeiro-abril desde 2003.
Além disso, a área queimada no Brasil, neste ano, representa um aumento de 150% em relação a 2023, totalizando 22,38 milhões de hectares devastados, equivalente à área do estado de Roraima.
Transição energética: desafios e oportunidades
A transição energética, fundamental para reduzir as emissões globais, exige que o mundo migre de uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis para um modelo mais sustentável e renovável.
No entanto, essa transição é particularmente desafiadora para países com economias emergentes, que dependem de setores de alto impacto ambiental, como a agropecuária e a mineração.
A crescente expansão da mineração, inclusive, continua levantando preocupações ambientais e sociais no Brasil. A CSN Mineração iniciou obras para ampliar a produção de minério de ferro de alto teor no Complexo Casa de Pedra, em Congonhas (MG), com investimentos de R$8 bilhões.
Esses projetos intensificam a exploração de recursos naturais e podem agravar os impactos ambientais associados à mineração. Além disso, estudos indicam que a mineração utiliza quase 600 bilhões de litros de água por ano sem indicar a fonte, evidenciando um descontrole no uso das bacias hidrográficas do país.
Em média, uma pessoa consome cerca de 154 litros de água por dia para suas necessidades básicas (beber, cozinhar, higiene, etc.). Portanto, com 600 bilhões de litros de água, seria possível abastecer:
10,7 milhões de pessoas durante um ano (154 litros por dia x 365 dias = 56.210 litros por ano).
Esse número representa aproximadamente 5% da população brasileira (que é de cerca de 213 milhões de pessoas).
Esse consumo exacerbado de recursos hídricos é alarmante, especialmente em regiões que já enfrentam escassez de água, comprometendo a disponibilidade para outras atividades essenciais e para o consumo humano.
Caminho para a sustentabilidade
No caso do Brasil, o governo federal vem incentivando o uso de biocombustíveis e a expansão da energia solar e eólica, segmentos que têm crescido nos últimos anos. O uso de biocombustíveis, por exemplo, contribuiu para evitar a emissão de mais de 1 milhão de toneladas de CO₂ em 2023. Já o setor de energia renovável contribuiu com uma economia de 88,7 milhões de toneladas de CO₂.
Contudo, apesar dos avanços, há necessidade de mais investimentos e apoio financeiro para acelerar essa transição, um desafio especialmente relevante para nações em desenvolvimento.
Além disso, o Acordo de Paris propõe que os países desenvolvidos ofereçam suporte financeiro e tecnológico aos países emergentes, como o Fundo Verde para o Clima, que visa auxiliar na implementação de iniciativas sustentáveis. No entanto, a lacuna entre o financiamento necessário e o realmente disponibilizado ainda é uma barreira significativa para o progresso.
Educação, transparência e participação social
Outro aspecto essencial do Acordo de Paris é a promoção da educação climática e o aumento da transparência nas ações de mitigação e adaptação. Esses pilares garantem que as sociedades estejam informadas e envolvidas no processo de transição climática.
O Brasil, por exemplo, vem investindo em programas de conscientização e incentivo à participação pública, reconhecendo que a mudança de comportamento em larga escala é um elemento-chave para o sucesso das políticas climáticas.
Durante a COP 29, o Brasil e outros países reafirmaram seu compromisso com as metas de redução de emissões, ao mesmo tempo que propuseram novos projetos e parcerias.
A nova NDC do Brasil, com metas que variam conforme os cenários projetados, reflete o compromisso do país em combater as mudanças climáticas de forma adaptativa e resiliente. A implementação do Plano Clima e de iniciativas como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre são passos significativos que visam tanto a proteção dos biomas brasileiros quanto a promoção de um modelo de desenvolvimento de baixo carbono.
Desafios para a transição energética global
A transição energética envolve um conjunto de mudanças nas maneiras de gerar, distribuir e consumir energia, com o objetivo de tornar essas práticas mais sustentáveis e menos dependentes de fontes de carbono.
Ela não é apenas uma substituição de tecnologias, mas uma transformação completa de estruturas e hábitos que têm dominado o setor energético por séculos. Este movimento busca substituir o uso de carvão, petróleo e gás natural por fontes renováveis, como solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde, que possuem menor impacto ambiental.
A transição energética é considerada essencial para alcançar as metas climáticas, uma vez que o setor de energia é o maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa. Esses gases, gerados principalmente pela queima de combustíveis fósseis, contribuem diretamente para o aquecimento global e as alterações climáticas que ameaçam ecossistemas, biodiversidade e, acima de tudo, a vida humana.
Portanto, reduzir drasticamente as emissões associadas ao setor energético é um passo fundamental para evitar os cenários climáticos mais catastróficos previstos por cientistas e organizações globais.
Obstáculos à transição energética: desafios para uma mudança rápida e eficiente
A transição para um sistema energético limpo e sustentável enfrenta obstáculos significativos, desde questões econômicas e políticas até desigualdades regionais e tecnológicas. Alguns desafios precisam ser superados para que a transição energética se torne uma realidade global.
Dependência dos combustíveis fósseis
Um dos principais desafios para a transição energética é a dependência mundial de combustíveis fósseis. Petróleo, gás natural e carvão ainda são as principais fontes de energia para a maioria dos países, sustentando economias inteiras, fornecendo empregos e gerando receitas substanciais para governos e empresas.
A substituição dessas fontes por alternativas renováveis requer investimentos massivos e tempo para garantir uma transição que seja segura, eficiente e que não impacte gravemente a economia e a sociedade.
Além disso, muitos países ainda possuem grandes reservas de combustíveis fósseis não explorados, o que gera uma resistência econômica à descarbonização e incentiva a continuidade do uso dessas fontes.
Em regiões onde o petróleo e o carvão são economicamente centrais, a transição energética implica na necessidade de criar políticas para reorientar suas economias, o que é um processo complexo e muitas vezes politicamente sensível.
O Azerbaijão, país anfitrião da COP 29, possui uma economia fortemente baseada na exploração e exportação de petróleo e gás natural. Historicamente, esses combustíveis fósseis têm sido a principal fonte de energia do país, com o gás natural representando a maior parte do consumo energético interno.
Durante a COP 29 em Baku, o governo do Azerbaijão adotou um discurso preocupante e retrógrado ao defender os combustíveis fósseis como pilares do desenvolvimento econômico, alegando que tais recursos são “presentes de Deus”. Essa postura ignora a responsabilidade global pela redução de emissões de carbono e perpetua uma visão que prioriza o lucro imediato sobre a sustentabilidade e a justiça climática.
Ao insistir em legitimar a exploração e a comercialização de combustíveis fósseis no diálogo climático, o país despreza os impactos devastadores dessas práticas no meio ambiente e nas populações vulneráveis, demonstrando uma desconexão alarmante com as demandas urgentes da crise climática.
Resistência política e econômica
A transição energética exige compromissos firmes e consistentes de governos e empresas. No entanto, essa transformação encontra frequentemente resistência política e econômica, especialmente em locais onde os interesses das indústrias de combustíveis fósseis exercem forte influência. A pressão por manter o status quo, vinda de setores que se beneficiam financeiramente do atual sistema, torna difícil aprovar legislações e regulamentações que favoreçam energias renováveis.
Além disso, em muitos países, a transição energética não é vista como uma prioridade de curto prazo, especialmente quando confrontada com questões econômicas imediatas, como inflação, desemprego e crises sociais.
A reeleição de Donald Trump trouxe incertezas para a agenda climática global. Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e desmantelou várias políticas ambientais. Acredita-se que, em seu segundo mandato, ele continuará priorizando combustíveis fósseis e reduzirá o financiamento para iniciativas climáticas internacionais, o que pode comprometer os esforços globais de transição energética.
Na Argentina, o presidente Javier Milei, conhecido por seu ceticismo em relação às mudanças climáticas, ordenou a retirada da delegação argentina da COP 29. Essa decisão sinaliza um afastamento das políticas climáticas internacionais e levanta preocupações sobre o compromisso do país com a transição energética e a redução de emissões.
Esse cenário coloca em xeque o avanço de políticas de transição e, muitas vezes, os compromissos climáticos acabam sendo deixados de lado em prol de interesses econômicos de curto prazo ou de crenças ideológicas.
Benefícios da transição energética
Apesar dos desafios, a transi ção energética traz benefícios que vão muito além da redução das emissões de carbono. Entre os principais, estão:
- Benefícios ambientais: a transição para fontes renováveis diminui a poluição do ar, contribui para a preservação da biodiversidade e melhora a qualidade de vida das populações urbanas, reduzindo doenças respiratórias associadas a poluentes atmosféricos.
- Benefícios econômicos: a transição energética tem o potencial de gerar novos empregos e estimular o desenvolvimento de novas tecnologias, incentivando a inovação e criando oportunidades de negócio em setores emergentes.
- Benefícios sociais: a transição para um sistema energético mais limpo e acessível favorece a democratização da energia, permitindo que comunidades isoladas e vulneráveis tenham acesso a fontes sustentáveis e economicamente viáveis, reduzindo desigualdades e promovendo o desenvolvimento social.
Brasil e a transição energética: situação atual
Com 49,1% de sua energia oriunda de fontes renováveis, o Brasil não apenas lidera o debate sobre sustentabilidade, mas também evidencia os desafios e oportunidades para alcançar as metas climáticas do Acordo de Paris.
De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil tem avançado consistentemente na adoção de fontes renováveis. Em 2023, a participação dessas fontes na Oferta Interna de Energia (OIE) atingiu 49,1%, um aumeto em relação aos 45% registrados em 2021.
O crescimento das fontes renováveis no Brasil é sustentado por um conjunto diversificado de recursos naturais. Entre os principais destaques estão:
– Hidrelétricas: representam a maior parte da matriz energética brasileira, sendo favorecidas pelo regime hídrico nacional.
– Energia eólica: cresceu significativamente, especialmente no Nordeste, onde os ventos constantes garantem alta eficiência.
– Energia solar: um segmento em rápida expansão, impulsionado pela queda no custo das tecnologias e pelos incentivos governamentais.
– Biomassa: com forte presença na agroindústria, é uma solução sustentável para resíduos orgânicos.
Esses recursos não apenas garantem a liderança brasileira na transição energética, mas também demonstram o potencial do país em atrair investimentos e gerar empregos na economia verde.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios com o uso de combustíveis fósseis, que representam 52,6% da matriz energética. O petróleo, o gás natural e o carvão continuam sendo pilares importantes, especialmente no setor de transporte e na geração de energia elétrica em momentos de crise hídrica.
– Petróleo: amplamente utilizado nos transportes, responde por 71% do consumo total de óleo diesel fóssil.
– Gás natural: sua demanda aumentou recentemente devido aos altos preços de outros combustíveis, com destaque para a geração de energia elétrica (46% do consumo total).
– Carvão: ainda é relevante para a geração de eletricidade em períodos críticos, embora sua utilização esteja sendo reduzida por questões ambientais.
COP 29: Brasil lidera iniciativa global por uma transição energética justa e sustentável
Durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29), realizada em Baku, Azerbaijão, o Brasil se destacou ao propor um pacto global voltado para a promoção de uma transição energética inclusiva e sustentável. Essa iniciativa, liderada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), busca aliar a segurança energética às metas de descarbonização, estabelecendo um exemplo para o cenário internacional.
A proposta brasileira destaca a necessidade de ações coordenadas que atendam às demandas ambientais sem comprometer o desenvolvimento econômico e social, especialmente em países em desenvolvimento. Este compromisso reflete uma abordagem mais ampla e integradora, alinhada aos objetivos do Acordo de Paris e às metas de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
A proposta apresentada na COP 29 reforça o papel do país como um modelo de sucesso no uso de energias limpas, ao mesmo tempo em que defende a criação de mecanismos financeiros e tecnológicos para facilitar o acesso de outras nações a soluções sustentáveis.
A proposta prevê:
- Investimentos em energias renováveis e tecnologias limpas: ela enfatiza a importância de expandir globalmente a capacidade instalada de energias renováveis, alinhando-se às recomendações da Agência Internacional de Energia (AIE), que estima a necessidade de triplicar essa capacidade até 2030.
- Mecanismos financeiros inclusivos: reconhecendo os desafios enfrentados por países em desenvolvimento, o pacto propõe mobilizar recursos internacionais para apoiar a transição energética em regiões com menor capacidade financeira. Segundo estimativas, seriam necessários US$2,4 trilhões anuais para implementar ações climáticas, dos quais US$1 trilhão deveria ser oriundo de fontes externas.
- Capacitação e transferência de tecnologia: a proposta brasileira inclui estratégias para fortalecer a inovação e a autonomia tecnológica dos países em desenvolvimento. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desempenha um papel essencial ao apoiar setores-chave como bioeconomia, mobilidade e eficiência energética.
Apesar das boas intenções e da receptividade internacional, o pacto enfrenta desafios significativos. Um dos principais entraves é alinhar as diferentes prioridades econômicas e ambientais, especialmente em países fortemente dependentes de combustíveis fósseis. Negociações multilaterais e a busca por soluções inovadoras serão essenciais para superar esses obstáculos.
Outro desafio envolve a implementação de uma abordagem verdadeiramente inclusiva, garantindo que comunidades vulneráveis e trabalhadores de setores tradicionais de energia também sejam beneficiados pela transição para fontes renováveis.
O pacto global liderado pelo Brasil reforça que a transição para uma matriz energética limpa não é apenas uma questão ambiental, mas também uma oportunidade estratégica de crescimento econômico. Empresas do setor energético, investidores e governos têm a chance de colaborar em projetos que integram sustentabilidade e inovação, contribuindo para um futuro mais equilibrado.
Impacto das mudanças climáticas e a urgência de cumprir as metas do Acordo de Paris
O aquecimento global já está alterando profundamente os ecossistemas do planeta. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento atual na temperatura média tem causado o derretimento acelerado de glaciares, o encolhimento da cobertura de gelo do Ártico e a elevação do nível do mar.
Com o aumento de apenas 1,5°C, eventos extremos como secas, enchentes e incêndios florestais serão ainda mais frequentes, causando a degradação irreversível de ecossistemas e colocando espécies inteiras em risco de extinção.
Caso o aquecimento ultrapasse 2°C, estima-se que 18% das espécies de insetos e 16% das espécies de plantas perderão mais da metade de suas áreas de ocorrência geográfica. A barreira dos 3°C representaria um cenário catastrófico, com até 29% das espécies enfrentando alto risco de extinção.
A Amazônia pode sofrer um colapso que não dá para reverter, caso o desmatamento e o aquecimento continuem no ritmo atual, desencadeando impactos globais em ciclos de água e absorção de carbono.
Consequências sociais: deslocamentos e crises humanitárias
O aumento na frequência e na intensidade de eventos climáticos extremos já está forçando milhões de pessoas a abandonar suas casas. Apenas em 2022, mais de 32 milhões de deslocamentos internos foram causados por desastres naturais, um aumento de 41% em relação a 14 anos atrás. Com 2°C de aquecimento, o número de pessoas expostas a inundações de rios pode dobrar, colocando populações inteiras em situação de vulnerabilidade.
Cidades também enfrentam um desafio crescente com as ondas de calor. Em um cenário de +1,5°C, cerca de 547 milhões de pessoas estarão expostas a temperaturas acima de 35°C por mais de 30 dias ao ano.
Esse número pode saltar para 701 milhões caso o aquecimento atinja 3°C, afetando desproporcionalmente populações mais pobres, idosos e trabalhadores ao ar livre. A saúde pública também está em risco, com a propagação mais rápida de doenças como dengue, zika e chikungunya em ambientes mais quentes.
Impactos econômicos: perdas irreparáveis e crescimento do custo de adaptação
As mudanças climáticas têm um custo econômico direto. Entre 2021 e 2023, desastres climáticos causaram prejuízos de 162 bilhões de euros na União Europeia. Em cenários de aquecimento superior a 2°C, os custos de adaptação para a agricultura e infraestrutura podem alcançar níveis muito altos, com perdas estimadas em 128 bilhões de dólares para proteger lavouras globais contra secas e calor extremo.
O aumento do nível do mar também ameaça a infraestrutura costeira de grandes cidades, colocando em risco áreas habitadas hoje por milhões de pessoas. No Brasil, projeções indicam que mais de 15 milhões de pessoas podem ser diretamente impactadas caso o aquecimento global ultrapasse os 3°C.
O fracasso em alcançar as metas do Acordo de Paris não é apenas uma questão ambiental, mas uma ameaça direta à sobrevivência de bilhões de pessoas e à estabilidade global. A COP 29 representa uma janela de oportunidade crítica para reverter o curso das emissões, intensificar a transição energética e estabelecer políticas robustas que assegurem um futuro sustentável. Os desafios são imensos, mas as consequências da inação são ainda mais graves. O tempo está se esgotando, e o mundo precisa agir agora.
Transformando compromissos climáticos em ações para um futuro sustentável
A COP 29 reforça a urgência de uma ação climática integrada e global para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, que já são visíveis e desafiadoras. Embora avanços tenham sido alcançados, como os esforços do Brasil na redução de emissões e na promoção de uma matriz energética mais limpa, ainda há muito a ser feito. A transição energética não é apenas uma meta climática, mas uma necessidade econômica e social para garantir um futuro sustentável.
Os compromissos firmados na COP 29 devem ser acompanhados por ações concretas e imediatas, com destaque para o financiamento climático e a transferência de tecnologias que permitam a inclusão de nações em desenvolvimento. O tempo para inação acabou. Cabe aos governos, às empresas e à sociedade civil transformar as promessas do Acordo de Paris em realidade, colaborando para limitar o aquecimento global e proteger o planeta para as gerações futuras.
O legado da COP 29 dependerá não apenas das decisões tomadas em Baku, mas também da implementação contínua e monitorada dessas resoluções ao longo dos próximos anos. Cada passo dado agora contribuirá para evitar cenários catastróficos e construir uma trajetória de desenvolvimento sustentável, equilibrando progresso econômico, justiça social e preservação ambiental.
Com a próxima COP 30 programada para ocorrer em Belém, no Brasil, em 2025, o país estará no centro das discussões climáticas globais, reforçando a importância de ações efetivas e liderança na agenda ambiental.