Foto: RNA

 

“De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”, foi a frase do jornalista André Trigueiro sobre o final da COP28, citando o Barão de Itararé. 

Não é sem razão a baixa expectativa quanto aos resultados da 28a. Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Primeiro, a conferência teve como anfitrião os Emirados Árabes Unidos, país economicamente dependente da exploração e comercialização do petróleo, combustível fóssil no centro do problema da crise climática global, cuja redução de produção e consumo é essencial na redução de emissão de carbono na atmosfera. 

Segundo, foi nomeado líder das negociações, o presidente-executivo da empresa petrolífera estatal, Sultan al-Jaber. Terceiro, o país anfitrião proibiu toda e qualquer manifestação de rua, que tem sido comum como forma de pressão das  organizações da sociedade civil nas conferências anteriores. 

Finalmente, os resultados de uma conferência da ONU devem ser alcançados somente por consenso. Notadamente, os países do G20 não atuam para cumprir a meta do Acordo de Paris, que prevê, até o fim do século, limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.

A COP28 termina com um documento final que reconhece o senso de gravidade e urgência alertado pela ciência, além de estabelecer um objetivo global para a transformação de sistemas energéticos rumo à neutralidade climática até 2050. O Acordo de Paris também foi relembrado e reforçado, a fim de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC em relação a níveis pré-industriais. 

Por outro lado, o documento não fala em “eliminação” dos combustíveis fósseis, expressão que gerou polêmica e foi vetada pelos países produtores de petróleo. Também não apresenta metas e cronograma claros e ambiciosos para a transição energética, e não cita outras indústrias que degradam o meio ambiente, como a mineração e o agronegócio, que é o maior responsável pela emissão de gases de efeito estufa no Brasil.

Para limitar o aquecimento global a 1,5°C, o mundo precisa reduzir as emissões globais pela metade de década em década, até 2050. Um novo estudo, do WRI e da ClimateWorks Foundation, descobriu que, para entrar nos trilhos da redução necessária até 2030, o mundo precisa acelerar o ritmo da adoção de energia renovável em seis vezes em relação às taxas atuais e eliminar o carvão cinco vezes mais rápido”*.

O Brasil teve uma participação conflituosa na COP28. Enquanto o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério dos Povos Indígenas divulgavam as conquistas recentes de redução no  índice de desmatamento e inserção  dos povos indígenas brasileiros nas discussões da conferência, o Ministério das Minas Energia não só anunciou a entrada do Brasil na OPEP+, organização dos países produtores de petróleo, como a Agência Nacional de Petróleo anunciou o leilão de 607 blocos exploratórios de óleo e gás. Uma “bomba” de emissão de gás carbônico.

E como “de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) foi fazer “beicinho” na COP28 e reclamou que a mineração não é compreendida. Reclamou ele que a mineração está sendo punida com impostos, mas “a mineração é a indústria das indústrias… que não existe possibilidade de uma transição para uma economia de baixo carbono sem os chamados “minerais críticos”, como lítio, nióbio, terras-raras, cobre, entre outros”. Em suma, mais mineração, mais degradação do meio ambiente**.

 

Fontes:
* https://www.wribrasil.org.br/noticias/cinco-anos-de-acordo-de-paris-esta-funcionando
** https://ibram.org.br/noticia/presidente-do-ibram-afirma-que-mineracao-e-a-base-para-a-transicao-energetica-na-cop28/