Confira as manifestações e exposições de arte que marcaram a data

No dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28, os moradores de Brumadinho (MG) pensaram estar diante de um terremoto. Na realidade, o que viam era o princípio de uma das maiores tragédias socioambientais do Brasil: o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da mineradora Vale.

Mesmo depois dos rompimentos das barragens em Itabirito (2014) e Mariana (2015), o modelo da mineração permaneceu o mesmo. Dessa vez, os 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério atingiram 26 municípios, contaminando o Rio Paraopeba e deixando 272 pessoas mortas.

Entre elas estavam os irmãos Luiz e Camila Taliberti, que vivem no nome e na memória deste Instituto. “A tragédia apenas começou no dia 25 de janeiro, mas nas nossas vidas ela se renova todos os dias”, afirma Helena Taliberti, presidente do ICLT (Instituto Luiz e Camila Taliberti), que perdeu a filha, o filho, a nora e o neto em Brumadinho.

Em 2024, ano em que a tragédia completou cinco anos, o Instituto se engajou em uma agenda robusta para marcar o Mês da Memória, reforçando seu compromisso com a valorização da vida humana e do meio ambiente.

 

Mês da Memória: plantando sementes


Assim como nos anos anteriores, o
Ato por Memória e Justiça ocupou a Avenida Paulista, em São Paulo, com manifestações artísticas e homenagens às vítimas da tragédia em Brumadinho. O evento, realizado pelo ICLT, em parceria com a AVABRUM (Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento em Brumadinho), teve como objetivo chamar atenção para o impacto causado pela mineração. 

Desta vez, o Instituto Camila e Luiz Taliberti firmou parceria com a premiada artista visual Isadora Canela, natural de Brumadinho, que se dedica a pesquisar sobre as consequências da mineração no cotidiano da terra e dos povos que nela vivem. Dessa colaboração, surgiu a exposição “Paisagens Mineradas”, realizada em São Paulo, entre os dias 20 e 25 de janeiro. 

Os visitantes puderam conferir fotografias, gravuras, esculturas e instalações produzidas por dez mulheres artistas visuais, que retratam os impactos socioambientais da mineração em suas obras. Além disso, a exposição também conta com perfomances, visitas guiadas, exibição de filmes e mesas de conversa. 

“Entendemos a arte como um poderoso instrumento de diálogo e reflexão. Com esse conjunto de iniciativas, a ideia é proporcionar uma imersão na temática da mineração e incentivar um olhar crítico em relação a esse setor que já fez centenas de vítimas no Brasil e no mundo”, resume Helena Talibert.

A exposição reuniu trabalhos artísticos que ilustraram os sentimentos vivenciados a partir do cenário de devastação da tragédia em Brumadinho

Tragédia e poética: resistindo por meio da arte


Um dos temas abordados durante as mesas de abertura da exposição foi a nuance entre a poesia e a dor. Artistas, familiares e curadores se reuniram para refletir sobre como é conviver diariamente com o vazio deixado por uma tragédia.
A começar pela artista indígena Shirley Krenak, idealizadora do projeto Sons que Curam.

“O meu povo luta há mais de 200 anos contra os efeitos da mineração. Nós acordamos com a buzina do trem carregando o sangue da terra e dormimos sem paz. Todos os dias contemplamos a amplitude dessa destruição quando nos deparamos com um irmão morto diante de nós: o rio”, compartilhou. 

Em complemento, o pajé Time i Assurini, da etnia Araweté do Xingu (PA), reforçou que a valorização da sabedoria ancestral é a chave para encontrar soluções efetivas.

“O conhecimento que adquirimos deve estar sempre a serviço da vida humana e do meio ambiente. Afinal, compartilhamos o mesmo planeta Terra. Quando ele começar a cobrar pelas nossas ações, não haverá distinção entre quem tem consciência ou não”, concluiu o idealizador do Instituto Janeraka.

Mesa de Conversa: Tragégia e Política, reunindos vozes expoentes na luta e resistência dos atingidos pela barragem em Brumadinho

Para Christiane Tassis, pesquisadora e roteirista, essa consciência surgiu a partir das viagens que fez pelas entranhas de Minas Gerais. Embora não tenha perdido familiares e amigos na tragédia, ela foi profundamente atravessada pela dor das pessoas que entrevistou.

“A mineração é um poder paralelo, que interfere nas paisagens, na política, na economia e nas relações. Todos somos atingidos, ainda que de formas distintas”, afirmou. 

Lis Haddad, artista multidisciplinar, educadora e pesquisadora, usa as habilidades artísticas para ecoar o luto e as lutas coletivas.

“Uma forma de lidar com essa dor é pensar que cada um de nós é um canal para que a potência de vida de quem não pode estar aqui continue se manifestando”, finalizou a artista.

 

Basta de Impunidade. Justiça por Brumadinho!

Além da exposição e do ato, o Instituto relança o Manifesto
Basta de Impunidade. Justiça por Brumadinho’. Apoiado por diversas entidades da sociedade civil, o pleito  exige celeridade no andamento dos processos e pede que todas as pessoas consideradas responsáveis sejam julgadas pelos crimes identificados nas investigações. A meta é alcançar 100 mil assinaturas. Junte-se a nós e assine aqui!