O Carnaval é muito mais do que uma simples festa: ele é o coração da cultura brasileira, uma manifestação histórica que perpassa gerações, promovendo encontros entre música, dança e expressões populares.
Com raízes que remontam ao período colonial e transformações ao longo dos séculos, o Carnaval conquistou não apenas o título de maior celebração do Brasil, mas também o papel de motor econômico, atraindo milhões de turistas e movimentando a economia local e nacional.
No entanto, a importância do Carnaval não se limita ao seu aspecto festivo. Essa celebração popular carrega consigo o poder da cultura, servindo como um espaço de resistência, inclusão e conscientização coletiva.
Ao longo dos desfiles, blocos e festas de rua, questões sociais relevantes ganham visibilidade, como a defesa dos direitos humanos e a promoção da sustentabilidade.
Por meio das vozes de escolas de samba, blocos temáticos e projetos comunitários, o Carnaval se torna um palco para reivindicações sociais e ambientais.
Neste artigo, propomos uma reflexão sobre como o Carnaval pode ser um instrumento para impulsionar mudanças em prol dos direitos humanos e da sustentabilidade. Afinal, quando blocos de Carnaval levantam bandeiras contra o racismo, a violência de gênero ou a crise climática, eles demonstram que a alegria também pode ser um ato de resistência e transformação.
O carnaval e os direitos humanos: cultura, inclusão e resistência
O Carnaval é um símbolo de diversidade, resistência e inclusão. Durante essa festa, as barreiras sociais se desfazem temporariamente (pelo menos, quando não há abadás), proporcionando uma mistura única de culturas, classes sociais, etnias e identidades de gênero.
Cada bloco de rua, cada desfile de escola de samba representa a união das diferenças que enriquecem o Brasil. Seja na passarela do samba ou nas ruas, o Carnaval celebra o direito ao pertencimento e à visibilidade.
Carnaval como resistência histórica
O samba, com raízes na cultura africana trazida pelos povos escravizados, floresceu no Brasil no início do século XX nas comunidades negras marginalizadas. Desde sua origem, foi um símbolo de resistência e afirmação cultural frente à opressão racial e social. O Carnaval de rua, por sua vez, tornou-se uma plataforma onde as vozes das periferias se fazem ouvir, levando mensagens de enfrentamento às desigualdades e celebrando identidades historicamente reprimidas.
As escolas de samba, especialmente, emergiram como potências culturais e sociais. Muito além do espetáculo, essas instituições têm um papel fundamental no empoderamento das comunidades periféricas. O trabalho das escolas envolve não só a preparação do desfile, mas projetos sociais que englobam educação, cultura e assistência comunitária ao longo de todo o ano.
Durante décadas, as rodas de samba e os blocos carnavalescos foram reprimidos pela elite e pelas forças de segurança, mas nem isso foi capaz de silenciar a cultura popular. Pelo contrário, o Carnaval se consolidou como uma forma de resistência histórica. Hoje, ele continua servindo como uma ferramenta de luta contra diversas formas de opressão, promovendo discursos de igualdade racial, de gênero e de direitos humanos.
Blocos que promovem igualdade e direitos humanos
Os blocos de carnaval também têm se destacado como espaços de resistência e luta por direitos. Muitos deles promovem pautas LGBT+, desafiando a LGBTfobia e garantindo ambientes seguros para a comunidade. No Rio de Janeiro, o bloco Divinas Tretas celebra a diversidade com muito brilho e música. Em São Paulo, o MinhoQueens arrasta foliões com performances e discurso de inclusão. Em Belo Horizonte, o Abalô-caxi reforça a representatividade e a luta contra o preconceito. Já em Recife e Olinda, o Bloco da Diversidade transforma o frevo em manifesto contra o racismo, o machismo e a discriminação. Essas iniciativas não apenas fazem parte da festa, mas usam a arte e a música como forma de protesto e afirmação de direitos.
Exemplos de impacto social
Diversas escolas de samba e blocos investem em ações de inclusão e projetos sociais que vão além dos dias de folia. A Acadêmicos do Grande Rio, no Rio de Janeiro, desenvolve iniciativas voltadas para a educação e o fortalecimento da cultura local, oferecendo cursos e oficinas para a comunidade. Em São Paulo, a Unidos de Vila Maria mantém projetos de alfabetização, capacitação profissional e ações de solidariedade, reforçando seu compromisso social. Essas iniciativas promovem inclusão, cidadania e oportunidades para comunidades carentes, reafirmando o Carnaval como um importante agente de transformação social.
Violações de direitos humanos no Carnaval: desafios para uma festa inclusiva e segura
Embora o Carnaval seja amplamente celebrado como um evento de diversidade e inclusão, ele também revela uma face preocupante: a persistência de violações de direitos humanos. Dados alarmantes mostram que, durante o último Carnaval, foram registrados mais de 73 mil casos de violações de direitos humanos no Brasil, segundo o levantamento do Disque 100 e do Ligue 180. Entre as principais denúncias estão casos de violência policial, assédio sexual, discriminação e exclusão de grupos historicamente marginalizados, como pessoas negras, LGBT+ e mulheres.
Violência policial e abusos de autoridade
Durante o Carnaval, o aumento da presença de forças de segurança nas ruas deveria servir para garantir a segurança dos foliões. No entanto, em muitos casos, essa presença se traduz em episódios de abuso de poder, especialmente contra jovens negros e moradores das periferias.
Estudos apontam que blocos e eventos de comunidades marginalizadas sofrem maior vigilância e repressão, muitas vezes sem justificativa adequada. Em vez de proteger, a violência policial pode amplificar os riscos de agressões físicas e prisões arbitrárias, alimentando um ciclo de exclusão e criminalização da cultura popular.
O contexto histórico dessa violência está relacionado ao racismo estrutural no Brasil, que vê jovens negros como alvos preferenciais de abordagens abusivas. Essa realidade exige políticas públicas de treinamento das forças de segurança para evitar práticas discriminatórias e para garantir que o Carnaval seja um espaço de proteção, não de violência.
Discriminação e exclusão de grupos marginalizados
O Carnaval é um símbolo de inclusão, mas ainda há grupos que enfrentam discriminação e exclusão no decorrer da festa. Pessoas LGBT+ são frequentemente vítimas de agressões físicas e verbais, especialmente em blocos e locais onde a fiscalização e o apoio social são insuficientes. Mulheres, por sua vez, enfrentam o risco constante de assédio sexual, mesmo com campanhas como o “Não é Não” tentando mudar essa realidade.
Pessoas com deficiência também enfrentam barreiras de acessibilidade e falta de infraestrutura adequada para participar plenamente das celebrações. Além disso, blocos comunitários e espaços de manifestações culturais periféricas muitas vezes recebem menos apoio logístico e financeiro, limitando sua capacidade de oferecer um ambiente seguro para seus integrantes.
O impacto da desigualdade social no acesso à festa
O Carnaval revela as contradições da desigualdade social brasileira: enquanto blocos famosos e desfiles das grandes escolas recebem grande atenção da mídia e das autoridades, comunidades periféricas enfrentam obstáculos para promover suas tradições. Essa exclusão reforça a marginalização de grupos que, historicamente, foram os pilares da construção do Carnaval.
Para que o Carnaval cumpra seu papel como manifestação de resistência e inclusão, é essencial garantir a segurança e os direitos dos mais vulneráveis. Isso inclui não apenas políticas de proteção durante o evento, mas também medidas de longo prazo, como o fortalecimento de iniciativas comunitárias e a implementação de campanhas educativas que combatam os preconceitos.
O movimento “Não é Não” nos blocos: um passo para um Carnaval mais seguro
O Carnaval é um momento de celebração coletiva e liberdade de expressão, mas também enfrenta desafios relacionados ao assédio e à violência sexual. O movimento “Não é Não” surgiu para responder a essa realidade e vem se destacando como uma das principais iniciativas de combate ao assédio nas festas de rua. Com uma nova campanha já em andamento para o Carnaval 2025, o movimento reforça sua atuação por meio de ações educativas e parcerias com blocos e coletivos em todo o Brasil.
A campanha “Não é Não” tem um objetivo simples, mas importante: conscientizar a população de que o consentimento é essencial e que qualquer forma de interação não consensual é assédio. Durante o Carnaval, o movimento distribui adesivos, faixas e materiais informativos para alertar foliões e garantir que mulheres, pessoas LGBT+ e outros grupos vulneráveis possam se sentir seguras e respeitadas. O lema “Não é Não” resume o princípio básico de respeito à autonomia individual, especialmente em um ambiente festivo onde os limites nem sempre são respeitados.
Origem e importância do movimento
O movimento surgiu em 2017, quando um grupo de mulheres de diferentes regiões do Brasil decidiu criar uma campanha para combater o assédio durante o Carnaval. Inicialmente financiado por meio de vaquinhas virtuais, o “Não é Não” cresceu rapidamente, ganhando apoio nacional e internacional. Sua importância reside no fato de dar visibilidade a um problema muitas vezes banalizado e de pressionar por políticas públicas que protejam as vítimas de violência sexual, mesmo das vistas como “sutis”, como agarrão no braço e beijo forçado.
Nos últimos anos, o movimento não só sensibilizou foliões, mas também ajudou a moldar a cultura do Carnaval, promovendo um ambiente onde as mulheres e outros grupos possam se sentir mais à vontade para se expressar sem medo de assédio.
Muitos blocos de Carnaval têm adotado o movimento “Não é Não” como parte de suas políticas internas de segurança. Blocos populares como o Bloco do Sargento Pimenta, que acontece no Rio de Janeiro e São Paulo, e Acadêmicos do Baixo Augusta, em São Paulo, não apenas incorporaram a campanha em seus desfiles, mas também estabeleceram parcerias para oferecer apoio imediato às vítimas de assédio.
Além disso, alguns coletivos feministas têm colaborado com blocos para formar equipes de monitoramento, responsáveis por identificar situações de risco e fornecer um canal de denúncia acessível. Essas iniciativas são fundamentais para garantir que a festa continue sendo um espaço de alegria, mas sem comprometer o respeito e a segurança de seus participantes.
Uma das estratégias mais eficazes da campanha “Não é Não” é a conscientização prévia dos foliões. Antes do início do Carnaval, o movimento promove palestras, oficinas e ações nas redes sociais para educar a população sobre os diferentes tipos de assédio e sobre a importância do consentimento.
Em 2025, a campanha expandiu suas ações educativas por meio de uma parceria com escolas públicas e privadas, levando discussões sobre gênero, assédio e respeito ao ambiente escolar. Essa abordagem preventiva visa não apenas reduzir os casos de assédio durante o Carnaval, mas também promover uma mudança cultural duradoura.
Embora o movimento tenha conquistado avanços significativos, ainda enfrenta desafios para garantir a implementação eficaz de políticas de segurança. A sobrecarga dos órgãos públicos de fiscalização e a falta de treinamento adequado de parte das forças de segurança são obstáculos recorrentes. Além disso, em alguns segmentos da sociedade, crenças e comportamentos enraizados ainda dificultam a compreensão e a valorização do consentimento como princípio essencial nas interações – sim, há homens que ainda acham normal agarrar e intimidar as mulheres
Apesar dos desafios, o movimento “Não é Não” pode se orgulhar de histórias de sucesso que demonstram seu impacto positivo. Em 2019, por exemplo, blocos que adotaram a campanha relataram uma redução nos casos de assédio denunciados, fruto das ações de prevenção e do trabalho das equipes de monitoramento.
Em 2025, a nova campanha promete expandir essas conquistas, focando em estratégias de acolhimento às vítimas e maior articulação com as prefeituras e órgãos de segurança. A meta é que cada vez mais blocos adotem protocolos específicos para lidar com situações de assédio, promovendo um Carnaval verdadeiramente inclusivo e seguro para todos.
O movimento “Não é Não” mostra que pequenas ações podem gerar grandes mudanças. Sua atuação, que começou com a distribuição de adesivos em blocos de rua, se tornou um mecanismo de transformação cultural. Então, já sabe: mulheres com pouca roupa têm o direito de andar livremente e com segurança pelas ruas.
Sustentabilidade no carnaval
O Carnaval traz consigo, além da alegria, o impacto ambiental causado pelo excesso de lixo gerado durante os blocos de rua, desfiles e festas. Em meio às celebrações, toneladas de resíduos são deixadas para trás, representando um desafio significativo para a sustentabilidade nas cidades brasileiras.
Estima-se que o Carnaval de grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro gere diariamente centenas de toneladas de resíduos, desde latinhas de cerveja e garrafas plásticas até confetes e fantasias descartáveis. Em 2020, por exemplo, só no Rio de Janeiro foram coletadas mais de 600 toneladas de lixo durante os cinco dias de festa. A maior parte desse material é composta por plásticos, que possuem tempo de decomposição extremamente longo e podem causar danos ambientais duradouros.
Quando descartados de forma inadequada, esses resíduos podem acabar em rios e córregos, contribuindo para a poluição hídrica e prejudicando a fauna e flora local. Além disso, o excesso de lixo nas ruas compromete a limpeza pública, demandando uma grande mobilização de garis e gerando custos elevados para os municípios.
Grande parte do problema está no uso massivo de itens descartáveis, como copos plásticos, canudos, embalagens de alimentos e adereços de fantasia. O consumo consciente é frequentemente deixado de lado em meio à euforia da folia, e muitos dos resíduos que poderiam ser reciclados acabam sendo descartados sem qualquer separação. Isso reduz significativamente as chances de reaproveitamento desses materiais.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (ABRELPE), o plástico é um dos principais resíduos gerados no Carnaval. O restante segue para aterros sanitários ou, pior, é abandonado em locais inadequados, aumentando o risco de enchentes e degradação ambiental. Não se esqueça de segurar sua latinha (ou sua garrafa de água) vazia até encontrar uma lixeira.
Além disso, a música alta nos blocos e trios elétricos gera poluição sonora, prejudicando a fauna local, especialmente em áreas próximas a parques e reservas. Também há relatos de danos ambientais devido ao acúmulo de lixo em locais sensíveis, como rios, praias e áreas costeiras.
Embora o cenário apresente desafios, iniciativas sustentáveis vêm ganhando força. Em algumas cidades, blocos de rua têm promovido campanhas de conscientização sobre o descarte correto do lixo, incentivando foliões a levarem seus próprios copos reutilizáveis. Algumas prefeituras também têm adotado parcerias com cooperativas de catadores, garantindo que os materiais recicláveis sejam corretamente coletados e destinados.
Além disso, iniciativas de “Carnaval lixo zero” propõem uma abordagem integrada, que vai desde a redução do consumo de descartáveis até a reutilização de materiais. Além de reutilizar fantasias de anos anteriores, os foliões podem optar por alternativas sustentáveis, como substituir o glitter convencional por versões biodegradáveis. Marcas como a Cami.nito e a Pura Bioglitter oferecem opções ecológicas que brilham na folia sem agredir o meio ambiente. Pequenas escolhas como essas fazem a diferença para um Carnaval mais sustentável e consciente.
Ações sustentáveis em curso
Felizmente, várias iniciativas têm surgido para transformar a folia em um evento mais consciente e sustentável.
1. Blocos e eventos que promovem a coleta seletiva e reciclagem
Muitos blocos de rua já adotam a prática de instalar pontos de coleta seletiva ao longo de seus trajetos. Em cidades como Recife e Salvador, algumas iniciativas em parceria com cooperativas de catadores garantem que o lixo reciclável seja devidamente separado e reutilizado.
2. Iniciativas de reutilização de fantasias e materiais cenográficos
A produção de fantasias e carros alegóricos costuma gerar grande desperdício de materiais. No entanto, algumas escolas de samba e blocos têm implementado práticas de reutilização de tecidos, plumas e estruturas cenográficas, promovendo a economia circular. Campanhas incentivam foliões a reutilizar fantasias de anos anteriores ou optar por trajes feitos com materiais reaproveitados.
3. Uso de materiais biodegradáveis nos desfiles
Outra medida importante adotada por algumas escolas de samba é o uso de materiais biodegradáveis, como glitter ecológico (feito de algas ou celulose), para substituir os produtos à base de plástico. Além disso, há um esforço crescente para reduzir o uso de plásticos nos carros alegóricos.
Emprego e inclusão social nas escolas de samba
A confecção de fantasias, a construção de carros alegóricos e a organização dos blocos empregam milhares de pessoas, muitas delas de camadas sociais mais vulneráveis.
A reciclagem de materiais carnavalescos não apenas reduz o desperdício, mas também cria oportunidades para costureiras, artesãos e catadores de materiais recicláveis, que encontram no Carnaval uma forma de sustento. Esses profissionais fazem parte de uma cadeia produtiva e essencial da grande festa.
Outro aspecto importante desse encontro entre Carnaval e sustentabilidade é o papel educativo da festa. Muitas escolas de samba adotam enredos que abordam questões socioambientais, utilizando a arte para conscientizar o público sobre temas como mudanças climáticas, preservação da Amazônia e direitos humanos.
Campanhas importantes do Carnaval de 2025
O Carnaval de 2025 está sendo marcado por iniciativas que vão além da festa, promovendo importantes campanhas voltadas à proteção dos direitos humanos e à sustentabilidade. Em diferentes estados do Brasil, governos, instituições e blocos carnavalescos estão engajados em ações que buscam garantir um Carnaval mais seguro, inclusivo e ecologicamente responsável.
Proteção de crianças e adolescentes: campanha “Pule, brinque e cuide” em Brasília
O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) lançou a campanha “Pule, Brinque e Cuide – Proteção no Carnaval é Nosso Bloco” para reforçar a proteção de crianças e adolescentes durante as festividades. A iniciativa busca conscientizar a população sobre a importância da denúncia de violações de direitos, como exploração sexual e trabalho infantil, fortalecendo canais como o Disque 100. Além disso, ações educativas foram promovidas nos circuitos carnavalescos, com distribuição de materiais informativos e orientações para foliões, comerciantes e turistas.
Pernambuco: sustentabilidade e inclusão no Galo da Madrugada
O maior bloco de Carnaval do mundo, o Galo da Madrugada, também aderiu a práticas mais sustentáveis e inclusivas em 2025. Entre as principais ações, destacam-se a ampliação da coleta seletiva, o incentivo ao uso de copos reutilizáveis e a destinação de resíduos recicláveis para cooperativas de catadores. Além disso, a acessibilidade foi ampliada, garantindo espaços adaptados para pessoas com deficiência e campanhas de inclusão social que valorizam a diversidade cultural do evento.
Rio de Janeiro: Liga RJ e as ações sustentáveis na Cidade do Samba
No Rio de Janeiro, a Liga RJ promoveu ações sustentáveis durante os mini desfiles da Série Ouro na Cidade do Samba, no dia 7 de fevereiro. Com foco na redução do impacto ambiental da festa, foram adotadas práticas como a reutilização de materiais nos carros alegóricos e fantasias, além do incentivo ao descarte correto de resíduos. Outra inovação foi a implementação de um programa de compensação de carbono, visando mitigar as emissões geradas pelo evento.
Educar por meio do entretenimento: campanhas e ações no Carnaval
O Carnaval reúne milhões de pessoas nas ruas, nos sambódromos e nas redes sociais. Esse grande alcance pode ser aproveitado para disseminar mensagens educativas sobre respeito, inclusão e meio ambiente. Muitos blocos e escolas de samba já utilizam o espaço festivo para reforçar valores sociais e ambientais, promovendo iniciativas que impactam diretamente os foliões.
Campanhas de Respeito às Mulheres e à Comunidade LGBT+
Durante o Carnaval, a luta contra o assédio e a violência de gênero se intensifica com campanhas educativas promovidas por órgãos públicos e organizações da sociedade civil.
Um exemplo recente foi a campanha #BlocoDoRespeito, lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que reforçou a importância do consentimento e do respeito às mulheres e à população LGBT+. Blocos de Carnaval e municípios também adotaram iniciativas como a distribuição de materiais informativos e a criação de espaços de acolhimento para vítimas de assédio.
Além disso, blocos voltados para a diversidade, como o Acadêmicos do Baixo Augusta (SP) e o Bloco das Montadas (RJ), não apenas celebram a cultura LGBT+, mas também promovem ações de conscientização contra a homofobia e a transfobia. Esse tipo de iniciativa fortalece o Carnaval como um espaço de resistência e inclusão.
O impacto ambiental da festa pode ser significativo, mas diversas iniciativas já demonstram que é possível curtir com responsabilidade. Algumas campanhas de destaque incluem:
- Distribuição de sacolas de lixo recicláveis em blocos e praias, incentivando os foliões a descartarem corretamente os resíduos.
- Programas de voluntariado ambiental, como os mutirões de limpeza pós-bloco, que mobilizam moradores e turistas para recolher resíduos das ruas e conscientizar sobre o descarte adequado.
- Carnaval Carbono Zero, iniciativa da Bahia que busca compensar a emissão de gases de efeito estufa por meio de ações como o plantio de árvores e o uso de materiais recicláveis nas estruturas dos blocos.
Essas campanhas mostram que a festa pode ser um momento de celebração, mas também de aprendizado e responsabilidade ambiental.
Como cada pessoa pode contribuir para um carnaval mais sustentável nos blocos
Entre os blocos de rua, desfiles e festas, milhares de pessoas saem às ruas para aproveitar os dias de alegria e diversão do Carnaval. No entanto, é importante lembrar que o impacto ambiental dessa festa pode ser significativo. Da geração excessiva de resíduos ao consumo de energia e água, o Carnaval nos convida a pensar: como podemos curtir a folia sem deixar um rastro prejudicial ao meio ambiente?
1. Escolha fantasias e adereços ecológicos
Fantasias são uma parte essencial do Carnaval, mas muitas delas são feitas com materiais sintéticos e descartáveis, que rapidamente se acumulam como lixo. Uma alternativa sustentável é optar por peças reutilizáveis, feitas à mão ou adquiridas de brechós. Customizar suas próprias fantasias com materiais que você já tem em casa também é uma excelente forma de ser criativo e ecológico.
Dica: Ao escolher glitter, prefira as versões biodegradáveis, que não poluem rios e oceanos.
2. Leve seu próprio copo reutilizável
Os blocos de rua costumam gerar toneladas de resíduos, especialmente copos plásticos descartáveis. Para evitar esse desperdício, leve um copo ou caneca reutilizável. Hoje, muitas cidades e blocos incentivam essa prática, e alguns até oferecem descontos em bebidas para quem adere à ideia.
3. Descarte o lixo de forma correta
Durante a folia, é fácil se distrair e esquecer de onde estamos jogando o lixo. No entanto, o descarte inadequado não só suja as ruas, mas também afeta a fauna local e pode entupir sistemas de esgoto. Fique atento aos pontos de coleta seletiva nos blocos e descarte corretamente o que consumir.
4. Reduza o uso de plásticos descartáveis
Além dos copos, outros itens plásticos comuns, como garrafas, embalagens e sacolas, devem ser evitados. Dê preferência a garrafas reutilizáveis para se manter hidratado e evite comprar produtos que venham embalados em excesso.
5. Dê preferência ao transporte coletivo ou sustentável
Evite ir aos blocos de carro. O transporte coletivo, como ônibus e metrô, ou alternativas como bicicletas, são muito mais sustentáveis e ajudam a reduzir as emissões de gases poluentes. Além disso, caminhar até os eventos não só contribui para o meio ambiente, mas também permite vivenciar a festa de maneira mais integrada.
6. Apoie blocos e festas que promovem a sustentabilidade
Muitos blocos têm adotado práticas sustentáveis, como o uso de materiais reciclados nas decorações e a promoção de campanhas de conscientização ambiental. Apoiar essas iniciativas fortalece o movimento por um Carnaval mais responsável.
7. Hidrate-se de forma consciente
A hidratação é fundamental durante o Carnaval, mas isso não significa recorrer a garrafas plásticas descartáveis. Leve uma garrafa reutilizável e encha-a em pontos de água potável disponíveis nas ruas ou nos eventos.
8. Conscientize seus amigos
Pequenas ações ganham força quando são compartilhadas. Incentive amigos e familiares a seguirem práticas sustentáveis durante a festa.
Desafios presentes, um futuro sustentável à frente
Apesar dos avanços, ainda existem desafios que dificultam a consolidação do Carnaval como um evento totalmente sustentável e inclusivo. A resistência de certos blocos e festividades em adotar práticas sustentáveis, seja por questões de custo ou falta de regulamentação, ainda é um obstáculo. Além disso, o descarte inadequado de lixo continua sendo um problema crítico, principalmente nos grandes blocos de rua, onde toneladas de resíduos são deixadas nas vias públicas. A ausência de políticas públicas integradas também impede que a sustentabilidade seja um pilar central no planejamento da festa.
No entanto, a cada ano, novas iniciativas mostram como o Carnaval pode ser um espaço de resistência, inclusão e conscientização, levando debates fundamentais para milhões de pessoas. A mobilização contra violações de direitos humanos, como o assédio e a violência de gênero, destaca a necessidade de garantir um ambiente seguro e acolhedor para todos. Paralelamente, o fortalecimento de práticas sustentáveis, como a redução de resíduos e o incentivo ao consumo consciente, reforça o compromisso com o futuro do planeta.
O sucesso dessas transformações, contudo, depende da participação ativa de todos: foliões, organizadores, governos e empresas. Pequenas atitudes individuais, como o uso de materiais reutilizáveis, o respeito ao espaço do outro e o apoio a blocos comprometidos com causas sociais e ambientais, fazem a diferença. Somente com esse engajamento coletivo será possível construir um Carnaval cada vez mais inclusivo, responsável e sustentável.