“As mulheres sofrem violência porque gostam ou porque incitam.”
Infelizmente, essa ideia ainda é disseminada por muitos misóginos. Esse mito é profundamente prejudicial e culpabiliza as vítimas pela violência sofrida. As mulheres que enfrentam violência doméstica não o fazem por escolha ou provocação. Pelo contrário, muitas passam anos tentando evitar agressões para proteger a si mesmas e seus filhos.
O medo, a vergonha e a dependência financeira são alguns dos fatores que mantêm essas mulheres presas em relacionamentos abusivos, sempre na esperança de que a violência cesse.
É fundamental compreender que nenhuma justificativa pode legitimar atos violentos contra a mulher.
“A violência doméstica ocorre apenas em famílias de baixa renda e com pouca educação.”
A violência doméstica não discrimina classe social, raça, etnia, religião, idade ou nível educacional.
Casos de agressões e feminicídios são registrados em todos os estratos da sociedade. A ideia de que apenas famílias de baixa renda enfrentam esse problema ignora a realidade e dificulta a identificação e o apoio a vítimas em diferentes contextos socioeconômicos.
Reconhecer que a violência doméstica é um fenômeno universal é o primeiro passo para enfrentá-la de forma eficaz.
“É fácil reconhecer o perfil de mulher que apanha”
Não existe um perfil específico de mulher que sofre violência doméstica. Qualquer mulher, independentemente de sua idade, profissão, status social ou personalidade, pode ser vítima desse tipo de violência em algum momento da vida.
Essa generalização contribui para a invisibilidade de muitas vítimas que não se encaixam em estereótipos e, consequentemente, não recebem o apoio necessário.
“A violência doméstica não acontece com regularidade.”
Os dados estatísticos desmentem categoricamente essa afirmação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o 5º lugar entre os países com maior número de feminicídios.
Além disso, o ciclo da violência, que envolve fases de tensão, agressão e reconciliação, demonstra a repetição constante desses atos dentro de relacionamentos abusivos.
“Para dar um fim à violência, é só proteger as vítimas e penalizar os agressores.”
Embora a proteção das vítimas e a punição dos agressores sejam essenciais, essas medidas isoladas não são suficientes para erradicar a violência doméstica.
Trata-se de um problema estrutural que requer abordagens multidimensionais, incluindo educação sobre igualdade de gênero desde a infância, políticas públicas integradas de prevenção, pesquisas para monitoramento e avaliação de ações, além de campanhas de conscientização que envolvam toda a sociedade.
Somente com um esforço coletivo e contínuo será possível promover mudanças significativas e duradouras.
“A vítima não pode denunciar a violência doméstica em qualquer delegacia.”
Toda mulher tem o direito de denunciar violência doméstica em qualquer delegacia.
Só que as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM) possuem profissionais treinados e estruturas adequadas para lidar com esses casos de forma mais sensível e eficaz.
No entanto, a ausência de uma DEAM próxima não deve ser um impedimento para a denúncia.
O acesso à justiça é um direito garantido pela Lei Maria da Penha e todas as instituições policiais têm o dever de acolher e proceder com as denúncias de violência contra a mulher.
“Se a situação fosse tão séria, as vítimas deixariam os agressores rapidamente.”
A decisão de deixar um relacionamento abusivo é extremamente complexa e perigosa.
Estatísticas mostram que muitos feminicídios ocorrem justamente quando a mulher tenta se separar do agressor.
O medo de represálias, a falta de apoio social e econômico e o trauma psicológico causado pelas agressões contribuem para que muitas mulheres permaneçam em relações violentas.
“É melhor permanecer no relacionamento, mesmo enfrentando abusos, do que se separar e criar a criança sem a presença do pai.”
Manter-se em um relacionamento abusivo nunca é a melhor opção, nem para a mulher nem para os filhos.
Crianças que crescem em ambientes violentos são expostas a traumas que podem afetar seu desenvolvimento emocional e psicológico, além de aumentarem as chances de se tornarem futuras vítimas ou agressores.
Proteger os filhos significa, também, afastá-los de situações de violência e oferecer-lhes um ambiente seguro e saudável para crescerem.
“Em briga de marido e mulher não se mete a colher” ou ”Roupa suja se lava em casa”
A violência doméstica é um problema social que afeta não apenas a vítima direta, mas toda a comunidade.
Ignorar ou minimizar essas situações contribui para a perpetuação da violência e impede que as vítimas recebam ajuda.
Denunciar casos de agressão é um dever de todos e a intervenção pode ser fundamental para salvar vidas.
A Lei Maria da Penha permite que qualquer pessoa faça uma denúncia, inclusive de forma anônima, reforçando a responsabilidade coletiva no combate à violência contra a mulher. Então, se você souber de uma amiga – ou até uma vizinha – que sofra algum tipo de violência, é seu dever denunciar.
“Os agressores não sabem se controlar.”
A violência doméstica não é resultado de perda de controle ou incapacidade de gerir emoções.
Muitos agressores mantêm comportamentos socialmente aceitáveis em outros ambientes, como no trabalho ou em círculos sociais, direcionando a violência apenas para a parceira ou filhos.
Isso demonstra que a agressão é uma escolha consciente e deliberada, frequentemente, utilizada como meio de exercer poder e controle sobre a vítima.
“A violência doméstica pode surgir devido a problemas relacionados ao consumo de álcool, uso de drogas ou transtornos mentais.”
Embora o consumo de álcool, drogas ou a presença de doenças mentais possam estar associados a alguns casos de violência doméstica, eles não são causas diretas.
Muitos agressores não apresentam nenhuma dessas condições e ainda assim cometem atos violentos contra suas parceiras.
A raiz da violência doméstica está nas desigualdades de gênero, na cultura machista e na normalização da agressividade como forma de resolução de conflitos.
“A Lei Maria da Penha foi criada apenas para que as mulheres se vinguem dos homens.”
Este mito desvirtua o propósito legítimo e necessário da Lei Maria da Penha, que é proteger as mulheres da violência doméstica e punir adequadamente os agressores.
A lei estabelece mecanismos claros para a denúncia, proteção e responsabilização, visando garantir justiça e segurança para as vítimas.
Alegar que a lei é um instrumento de vingança é uma forma de desacreditar e minimizar a gravidade da violência contra a mulher.
Leia mais sobre o assunto no artigo: Lei Maria da Penha completa 18 anos.