Entenda como a mídia e as empresas propagam relatórios maquiados de ESG que prejudicam a sustentabilidade do planeta.

A sustentabilidade é a tendência do momento. Ela está na agenda política, na mídia,  nas prateleiras de supermercados e nos relatórios institucionais das empresas, com o nome de ESG. Mas nem sempre o discurso se reflete na prática. Isso acontece com tanta frequência, que ganhou até nome próprio: greenwashing. 

O termo em inglês pode ser traduzido por “lavagem verde” ou “maquiagem verde”. Isto é, quando empresas e governos distorcem o conceito de sustentabilidade para atrair consumidores e ampliar lucros. 

Afinal, pesquisas já apontam que mais da metade da população brasileira deixa de consumir produtos de marcas que não se comprometem com os impactos socioambientais gerados pela sua cadeia produtiva. É o que revela o Índice do Setor de Sustentabilidade 2023, levantamento realizado pela Kantar. 

Ao mesmo tempo, a pesquisa Visão do Mercado Brasileiro sobre os Aspectos ESG, realizada pela Bravo Research, revelou que 63% das empresas ainda não têm um plano concreto para práticas ESG (Ambiental, Social e Governança), embora reconheçam a importância desse investimento.


Mineração Sustentável: fato ou maquiagem verde?


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greenwashing abriu as discussões da exposição “Paisagens Mineradas”, organizada pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti em parceria com a pesquisadora Isadora Canela, em São Paulo. Entre os dias 20 de janeiro e 25 de fevereiro, o espaço Matilha Cultural recebeu obras que retratam os impactos socioambientais da mineração. 

As fotografias, gravuras, esculturas e instalações produzidas por dez mulheres artistas visuais foram reunidas para marcar os cinco anos da tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Além disso, a exposição também conta com performances, visitas guiadas, exibições de filmes e mesas de conversa. 

“Estamos em uma disputa de narrativa midiática para definir como esses incidentes ficarão registrados na história. As empresas continuam falando em ‘acidente’ e ‘mineração sustentável’, mesmo quando o modelo adotado continua gerando impactos significativos nas comunidades e no meio ambiente”, afirmou Felipe Hotta, advogado de causas socioambientais e um dos participantes da mesa Propaganda na era do greenwashing.

Mesa de conversa discutiu a propaganda como um dos elementos utilizados no greenwashing

Propaganda Verde: inimiga da sustentabilidade


A reparação dos territórios atingidos é uma obrigação legal prevista nos Termos de Ajustamento de Conduta, assinados após os crimes em Mariana e Brumadinho. Só que, ao mesmo tempo em que essas empresas tardam por restaurar os graves danos causados por suas ações na região mineira, suas diretorias maquiam o impacto socioambiental divulgando relatórios surpreendentemente positivos de ESG.

Enquanto isso, os danos seguem presentes na vida cotidiana dos atingidos. “Apesar de estarem adoecidas por um sistema que viola seus direitos diariamente, muitas pessoas se convenceram de que a mineração é a única alternativa econômica viável na região”, contou a fotojornalista Isis Medeiros, que convive com os moradores das cidades destruídas pela lama. 

A permacultora Carla Romano, do Instituto Janeraka, atribui essa crença à lógica da propaganda midiática.

“Em uma sociedade de consumo, profissionais da mídia são capazes de influenciar decisões. Ao comprarmos a ilusão dessas propagandas, nos tornamos inimigos da nossa própria existência”, conclui. 

Por fim, o artivista Mundano reforçou a arte como impulsionadora de soluções circulares que transformam e reaproveitam a matéria-prima. “Hoje, a maquiagem verde virou paisagem. Na prática, é quase impossível pensar em uma cadeia de produção 100% sustentável. Uma vez admitindo isso, nos tornamos críticos para encontrar soluções criativas, inovadoras e verdadeiramente sustentáveis”, finalizou o idealizador da ONG Pimp my Carroça.

 

Basta de Impunidade. Justiça por Brumadinho!


Além da exposição e do ato, o Instituto Camila e Luiz Taliberti relançou o Manifesto
Basta de Impunidade. Justiça por Brumadinho. Apoiado por diversas entidades da sociedade civil, o pleito  exige celeridade no andamento dos processos e pede que todas as pessoas consideradas responsáveis sejam julgadas pelos crimes identificados nas investigações. A meta é alcançar 100 mil assinaturas. Junte-se a nós e assine aqui!